terça-feira, 2 de setembro de 2025

GALERIA HISTÓRICA: PROFESSOR GERINALDO CONTA A HISTÓRIA DA PRAÇA 30 DE JULHO CONHECIDA COMO 'PRAÇA DO MATADOURO'

Praça 30 de Julho, em Ceará-Mirim/RN

Foi no ano de 1999, exatamente no dia do aniversário do Ceará-Mirim/RN, que o então prefeito Dr. Roberto Pereira Varela inaugurou a Praça 30 de Julho. Ele não pensou apenas em deixar algo que lembrasse a transferência da sede do município de Extremoz para a antiga povoação Boca da Mata. Mas para que se perpetuasse na memória de todos os filhos da Briosa Vila do Ceará-Mirim, o que realmente esse ato representou do ponto de vista político, econômico, religioso e social.

Boca da Mata havia crescido economicamente bem mais que a antiga Vila de Extremoz, que havia florescido à sombra de uma Missão Jesuítica, até o dia em que o governo de Portugal ordenou que os padres fossem expulsos de todas as suas colônias, por ordem do Marquês de Pombal, que entrou para a história como um “Déspota Esclarecido”, modelo de gestão da época do Iluminismo.

Em 1858, o governo imperial de sua majestade o Imperador D. Pedro II criou a vila do Ceará-Mirim através da Lei Provincial nº 370, assinada em 30 de julho, transferindo a sede do município de Extremoz para a nova vila que surgia radiante, altaneira, próxima ao antigo Rio Baquipe - nossa Syara Minor.

A emancipação do novo município se deveu a uma série de fatores, dentre os quais podemos destacar as razões econômicas como o desenvolvimento das atividades na produção açucareira, advinda dos engenhos que foram se instalando por todo o vale, pontilhando o imenso tapete verde com os inúmeros bueiros que exalavam rolos de fumaça doce no ar. O trabalho nos engenhos Carnaubal, Porão, São Francisco, Umburanas, Verde Nasce e tantos outros, marcou o surgimento e a sustentação de uma classe social abastada explorando outra classe, que era a dos escravizados e ainda dos trabalhadores livres, que pareciam servos existentes no sistema feudal que marcou toda o período da Idade Média.

O dia 30 de julho do ano de 1858 representou uma nova forma de vida no vale e na cidade, cujo comércio floresceu, surgiu a feira de forma mais organizada e crescente com a construção do mercado público pelo Major Onofre José Soares. Surgiram as primeiras ruas e um certo desenvolvimento agropecuário na região. A Câmara se reuniu e teve início a rotina administrativa. O 30 de julho também representa o poder da Igreja Católica, através do lançamento da pedra fundamental da Matriz dedicada a Nossa Senhora da Conceição cinco meses antes, em 21 de fevereiro e que levou quase 50 (cinquenta) anos para ficar pronta, tornando-se o símbolo da fé católica em toda a região e além, culminando a transformação da Matriz em Santuário da Imaculada Conceição. 

Pode-se perceber também vários outros elementos que vão promover o desenvolvimento da cidade e de seu povo, tais como a construção do solar Antunes, de vários engenhos, casarões, representantes de uma classe social aristocrática. Alguns elementos da cultura popular como os mais diferentes grupos folclóricos vão surgindo nos terreiros dos engenhos, comemorando festas da distante África, além das lendas urbanas e rurais que vão permear o cotidiano do homem do campo e da sede do município, além das poucas escolas públicas que podem ser encontradas.

Todo esse simbolismo advindo do 30 de julho está guardado nesse singelo passeio público que foi construído e inaugurado pelo ex-prefeito Dr. Roberto Pereira Varela (in memoriam). O local escolhido para construir a Praça 30 de julho fica entre a Rua Dr. Oscar Brandão e a Rua Sebastião Araújo, na esquina que guarda ainda o antigo abatedouro de animais, conhecido como “Matadouro Público Municipal”, inaugurado em 1935 pelo então prefeito Dr. Luís Lopes Varella (in memoriam)

A Praça 30 de julho foi inaugurada no ano de 1999, para marcar o aniversário dos 141 anos de Emancipação Política do Município. No local existia um chafariz – espécie de poço público de onde parte da população retirava água potável para suas necessidades diárias e que tinha o nome de Chafariz Santa Águeda nº 01. Outra parte dos habitantes da cidade se abastecia da água dos olheiros (Fonte Imperial, Olheiro do Diamante, Olheiro de Santa Tereza) ou da água que era comprada e transportada no lombo dos burros e mais tarde, em caminhão pipa, além dos outros moradores que buscavam água no Chafariz Santa Águeda nº 2, localizado na atual Praça Prefeito Edgar de Gouveia Varela, a famosa “Praça das Cinco Bocas”.

A Praça 30 de Julho, é uma praça moderna, mas que tem um ar bucólico. No centro existe uma mangueira com quase um século de existência. Seus bancos são de alvenaria e seus canteiros altos. E ladeada por um muro em forma de “L” que a separa dos quintais das residências próximas. Suas luminárias eram em postes baixos decorados, que foram destruídos pela ação dos vândalos e para não deixar a praça às escuras, foram instalados refletores.

Apesar de ser uma pequena praça, ela representa a grandiosidade política e administrativa de uma das mais importantes cidades imperiais: Ceará-Mirim. A Praça 30 de julho é a mais perfeita celebração ao aniversário de Emancipação Política de um povo alvissareiro e acolhedor, com muitos problemas, mas também com a coragem para trabalhar, acreditar, transpor barreiras e buscar um novo tempo sob a proteção da Virgem Padroeira Nossa Senhora da Conceição. Neste ano de 2025, a Praça 30 de Julho completou vinte e seis anos de inaugurada. Que sua edificação possa nos encher de orgulho e alegria mas também de esperança por dias melhores para o povo mais humilde e vulnerável, e que seja contemplado com políticas públicas que o beneficie com dignas condições de vida e tenha seus direitos respeitados.

Fonte: Professor Gerinaldo - Foto: Zé Bernardo Arquivo (José Maria Bernardo Bezerra)



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