Aliados de Bolsonaro compõem comitiva nos EUA e contrariam Eduardo
Eduardo alega que a comitiva de senadores, que inclui ex-ministros de seu pai, é vazia de legitimidade e fadada ao fracasso
Nesta sexta (25), embarca rumo a Washington D.C a comitiva de senadores criada para negociar com o Congresso americano a revogação das tarifas impostas pelo governo Trump ao Brasil. O grupo tem entre seus membros dois ex-ministros do governo Bolsonaro: o da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes (PL-SP), e a da Agricultura, Tereza Cristina (PP-MS). No lado oposto do balcão de negociações, está o próprio filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), crítico do esforço da comissão e entusiasta do pacote tarifário.
A viagem coloca mais aliados próximos do ex-presidente na mira do fogo amigo promovido por seu filho, que sistematicamente retrata lideranças contrárias à imposição tarifária a produtos brasileiros como traidores de seu grupo político. Se mantido o padrão, a viagem pode provocar um novo cisma dentro do bolsonarismo.
Contrariedade de Eduardo
Eduardo Bolsonaro manifestou sua contrariedade na terça-feira (22). Em nota pública, afirmou que os parlamentares da missão "não falam em nome do Presidente Jair Bolsonaro" e considerou a viagem um "gesto de desrespeito à clareza da carta do Presidente Trump". Segundo ele, "buscar interlocução sem que o país tenha feito sequer o gesto mínimo de retomar suas liberdades fundamentais [...] é vazio de legitimidade".
Na mesma linha, durante participação em podcast, Eduardo classificou a missão como "fadada ao fracasso" e sugeriu que não haverá diálogo com o governo americano sem a aprovação de uma anistia política no Congresso. "Não haverá recuo, porque para que ocorra uma mesa de negociação, o Brasil tem que dar um primeiro passo naqueles pontos da carta do Trump".
Acompanhando a nota, Eduardo compartilhou um trecho de vídeo do influenciador Paulo Figueiredo, que o acompanha nos Estados Unidos em meio à articulação por sanções a autoridades brasileiras. Figueiredo foi mais agressivo em sua declaração. "Senadores, principalmente Marcos Pontes e Tereza Cristina [...] se os senhores querem ir trair o Brasil, 'arregar para a ditadura [...], serão tratados como traidores. E serão publicamente humilhados".
Veja a íntegra da publicação:
NOTA PÚBLICA
Diante da formação de uma comitiva de senadores brasileiros que pretende vir aos Estados Unidos para tratar da Tarifa-Moraes imposta pelo presidente Trump, registro de forma categórica e inequívoca que tais parlamentares não falam em nome do Presidente Jair. pic.twitter.com/BZ3KQ0dJSj
Articulação imperativa
Marcos Pontes e Tereza Cristina não estão na comitiva por acaso. Além de representarem parte do bloco de oposição ao governo, os dois são ligados a setores duramente afetados pelas tarifas de Trump. Participar das negociações, para os dois, não é apenas uma questão de definição de postura quanto ao interesse econômico nacional, mas de cumprimento de seus compromissos eleitorais.
Tereza Cristina é referência entre eleitores sul-matogrossenses ligados ao agronegócio, principal atividade econômica de seu estado. O setor está entre os mais prejudicados pelas tarifas, em especial os produtores de carne e suco de laranja, altamente dependentes do mercado exportador para prosperar.
Marcos Pontes é oficial da reserva na Aeronáutica, e possui proximidade com a Embraer, principal fabricante de aeronaves na América do Sul e uma das maiores empresas brasileiras em desenvolvimento tecnológico. A companhia atua em operação integrada entre plantas industriais instaladas no Brasil e nos Estados Unidos. As tarifas podem encarecer sua operação a ponto de replicar o prejuízo recorde que atingiu a companhia durante a pandemia da covid-19.
Fogo amigo pelas tarifas
As críticas públicas à comitiva seguem o padrão de confrontos recentes de Eduardo com lideranças bolsonaristas que questionaram as tarifas. Nas últimas semanas, atacou os governadores Tarcísio de Freitas e Romeu Zema. O primeiro, por se reunir com representantes da embaixada dos EUA e buscar uma saída negociada às tarifas. O segundo, por apontar o prejuízo econômico e criticar a atuação de Eduardo contra o comércio nacional.
A Tarcísio, Eduardo escreveu: "Mas como, para você, a subserviência servil às elites é sinônimo de defender os interesses nacionais, não espero que entenda". Já a Zema, rebateu com ironia e acusou o governador mineiro de agir em defesa dos próprios interesses: "Enquanto são pessoas simples e comuns as vítimas da tirania, não há problema, mas mexeu na sua turminha da elite financeira, daí temos o apocalipse para resolver".
As reações do deputado, somadas à sua defesa explícita das tarifas, expõem uma divisão interna entre bolsonaristas quanto à condução das relações com o governo Trump. Em entrevista recente, Eduardo admitiu ter sido informado previamente pelo governo americano sobre as sanções e disse apoiar a tarifa de 50% como resposta à "crise institucional" promovida pelo ministro Alexandre de Moraes.
Diante da movimentação diplomática e da crescente pressão de setores empresariais, a missão em Washington pretende demonstrar que há um custo econômico elevado para ambos os países se mantida a escalada tarifária. Enquanto isso, Eduardo segue firme em sua estratégia de confronto, mesmo que isso signifique apontar contra antigos aliados.
Fonte: Congresso em Foco

Nenhum comentário:
Postar um comentário