sábado, 5 de agosto de 2023

LIVRO RETRATA COMO ERA O FUTEBOL FEMININO NO BRASIL ANTES DA PROIBIÇÃO DE VARGAS E O PIONEIRISMO DO RN

Futebol Feminino: do pioneirismo em Natal aos gramados de Copa do Mundo

Pesquisadora revela a história do futebol feminino no Rio Grande do Norte e aponta caminhos para o futuro da modalidade

Nesta semana, a seleção brasileira feminina de futebol se despediu ainda na primeira fase da Copa do Mundo 2023. O empate em 0 a 0 contra a Jamaica, resultou na eliminação precoce do Brasil do torneio. Em mais uma reportagem da série sobre futebol feminino, o NOVO traz algumas reflexões sobre a modalidade no Brasil e o início da sua trajetória nos gramados do Rio Grande do Norte.

Em busca de entender melhor a história do futebol feminino no país, o NOVO conversou com Aira Bonfim, pesquisadora da história do futebol e autora do livro “Futebol Feminino no Brasil: entre festas, circos e subúrbios, uma história social”. Ela possui dissertações e livros sobre o surgimento da modalidade feminina no Brasil e concedeu uma entrevista sobre sua motivação para estudar o tema.

Segundo Aira, sua jornada como pesquisadora começou em 2011, quando trabalhava no museu do futebol em São Paulo. Na época, ela percebeu a necessidade de olhar para além das equipes da primeira divisão e da seleção brasileira masculina, buscando entender outros circuitos, inclusive o futebol feminino. Sua motivação para estudar a história do futebol feminino foi tanto profissional quanto feminista, com o objetivo de revelar mulheres que fizeram parte dessa história e reconhecer seus protagonismos, muitas vezes ignorados e excluídos dos registros históricos.

“Existia uma história oficial de uma seleção que já era representante aí da CBF, que se inicia em 1988, mas quando a gente retorna para as fontes, para os jornais, principalmente para as revistas, a gente vai encontrar uma adesão de mulheres praticando futebol desde 1915. Sendo assim, por vezes, a gente que se reconhece, como pertencente ao país do futebol, excluiu essa representação das mulheres dentro dessa identificação”, contou a pesquisadora.

Um aspecto interessante destacado por Aira é a importância do estado do Rio Grande do Norte na história do futebol feminino no Brasil. Já em 1920, a revista “Vida Sportiva” do Rio de Janeiro trouxe uma reportagem sobre o tema, revelando que as mulheres já praticavam o esporte em Natal.

Esse pioneirismo no futebol feminino não é o único, já que o Rio Grande do Norte também foi um dos primeiros estados a incentivar a prática esportiva feminina, mostrando-se um ambiente propício para adesão de mulheres em diversas modalidades.

Dentro desse contexto, Aira enfatiza que a presença das mulheres potiguares praticando futebol nas primeiras décadas do século XX foi significativa. As fotos dessas meninas jogando bola em 1920 chegaram até o Rio de Janeiro, despertando o interesse em relação à adesão dessa modalidade em outras regiões do Brasil, a ponto de ser destaque em uma capa de revista na época.

“A gente tem essa evidência do cenário de Natal e das regiões próximas, como locais de adesão de diferentes práticas esportivas. E, dentro desse circuito, a presença de garotas, de mulheres, de potiguares que vão desde participar do remo, handball e também o futebol. De alguma forma, esse protagonismo é muito importante no sentido de pensar que as fotos dessas meninas jogando bola em 1920 chegaram até o Rio de Janeiro, a gente ainda não sabe como, mas fizeram despertar o interesse em relação à adesão dessa modalidade, a ponto de virar uma capa de revista nessa mesma época. Isso é muito significativo”, destaca Aira.

As pesquisas de Aira foram marcadas por desafios, principalmente a escassez de materiais sobre o futebol feminino. Enquanto existiam muitas publicações sobre o masculino, a situação era bem diferente para as mulheres, exigindo uma busca profunda em fontes primárias, como jornais e revistas ilustradas do início do século XX. Seu trabalho envolveu um recorte que abrange desde a iniciação das brasileiras no futebol até a interrupção causada pelo decreto-lei do Estado Novo em 1941.

“Existe um espalhamento diferenciado desse esporte, uma vez que ele não era reconhecido pelas ligas, que de alguma forma viabilizavam o calendário esportivo entre os homens. Então, a importância dos espetáculos, das atrações de circo que levavam torneios de futebol feminino por todo o Brasil. A partir da década de 1930, com trânsito entre o futebol amador e o profissional, há naturalmente uma adesão de mulheres representantes dos subúrbios, das periferias, que vão aprender a jogar futebol e vão apresentar uma excelente técnica dentro de campo”, revela sobre alguns trechos do seu livro.

Atualmente, Aira continua suas pesquisas e trabalhos, sempre focada em entender a história do futebol feminino e sua contribuição para a sociedade. Além disso, ela se dedica ao estudo das políticas públicas para o esporte feminino, buscando garantir o direito ao lazer e a democratização do esporte para as mulheres.

Por isso, através de sua obra literária, Aira Bonfim nos propõem a refletir sobre a importância do futebol feminino na história brasileira e reforça o protagonismo das mulheres nessa modalidade, desde os primórdios até os desafios enfrentados na atualidade. Enquanto o Brasil se despede da Copa do Mundo Feminina 2023, reforça ela, é fundamental reconhecer o papel das mulheres no esporte e promover a igualdade de oportunidades para que a modalidade continue crescendo e ganhando destaque em todo o país.

Fonte: Novo Notícias


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