Texto: Gerinaldo Moura da Silva - A Bodega de João Lopes
João Lopes é uma pessoa bastante conhecida em Ceará-Mirim, em parte isso deve-se ao seu nome está ligado ao seu comércio que mantém há mais de cinco décadas no alto da Rua Dr. Oscar Brandão, no Bairro de São Geraldo, desde o início dos anos setenta.
Etimologicamente, a palavra "Bodega" deriva do grego apothéké que significa depósito e através do latim apotheca que nada mais é que uma taverna ou taberna muito comum em vários países espalhados pela Europa. Em alguns locais também é conhecida por locanda, tasco ou tasca que era um local destinado à venda de vinhos e de gêneros alimentícios no varejo, e por isso era chamada de baiuca ou bodega, sendo também que na maioria dos casos chegava a ser um simples restaurante.
As bodegas em Ceará-Mirim representaram um período de ouro no comércio, quando ainda não havia chegado nenhum supermercado, que pode ser apontada como uma das causas para a derrocada dos bodegueiros, principalmente os que tinham seus pontos comerciais no centro comercial ou proximidades do Mercado Público, vingando por mais tempo nos locais mais afastados e outras conseguiram resistir por algum tempo devido à fidelidade e seus antigos fregueses que mantinham suas compras no “fiado” com anotações nas cadernetas e saudando as dívidas no final do mês.
A bodega leva o nome do proprietário. Geralmente isso acontecia ligando a pessoa ou a família ao empreendimento. Inicialmente a bodega pertencia ao senhor João Lopes da Silva que com o passar do tempo foi substituído por João Lopes Filho que vem mantendo a tradição comercial familiar até os dias atuais. O novo proprietário/herdeiro da bodega, nasceu em Ceará-Mirim (RN) no dia 19 (dezenove) de dezembro do ano de 1958 e foi batizado com o nome de João Lopes Filho. Seus pais são o senhor João Lopes da Silva (in memoriam) e a senhora Aliri de Souza Silva, sendo que a família foi formada por outros filhos que são: Jailton de S. Silva, Jorge Luís da Silva, Zilma Maria de Souza, Zilda de Souza Silva e Zenira de Souza Silva.
João Lopes, em idade escolar foi matriculado na Escola Municipal Dr. Augusto Meira onde aprendeu a ler e a escrever e no contra turno ia pra aula de reforço na casa da professora Izabel Poti. Em seguida passou a estudar no Educandário Madalena Antunes Pereira e ao concluir o Curso Ginasial, se matriculou para cursar o Segundo Grau na Escola de Comércio (atual Escola Estadual Professor Edgar Barbosa), que tinha como diretor o Professor João de Castro Filho.
Ao completar 18 (dezoito) anos, João Lopes se alistou no Exército Brasileiro por esse tempo viajou a São Paulo e Rio de Janeiro ficando no Sudeste do Brasil por um breve período e ao retornar a Ceará-Mirim assumiu o comando da Bodega. Antes porém, ele trabalhou como mestre de padaria.
A relação de João Lopes com a bodega, remonta aos anos 1972 quando seu pai fundou seu empreendimento comercial, e ele estava na época com 13 (treze) anos de idade, sendo que, dos 51 (cinquenta e hum) anos de funcionamento da bodega, ele a administra há exatos 40 (quarenta) anos e de lá pra cá ele realizou melhorias no local, sem, no entanto, descaracterizar a estrutura que conta com todas as suas prateleira em madeira, onde são expostos os mais diferentes gêneros, principalmente as bebidas alcoólicas ou não, como a aguardente em garrafas e os refrigerantes, que eram vendidos apenas em garrafas de vidros, passando para as latinhas e demais enlatados como as sardinhas e as carnes em conservas. O balcão ainda é todo confeccionado em madeira e à esquerda de quem entra, coladinho à parede, vamos encontrar um mostruário, que se torna uma bela peça sem muitos detalhes, mas contendo vidros em todo seu encaixe, que deixa à vista do cliente as mercadorias que estão sendo expostas à venda.
Durante essas cinco décadas, muitas mudanças ocorreram tanto dentro quanto fora das bodegas, fazendo com que seus proprietários se envolvessem com estratégias simples, soluções caseiras, para manter a freguesia fiel. Em muitos casos, vendendo a “retalho”, subdividindo as mercadorias. As dosezinhas de cachaça, o tira-gosto feito de mortadela ou carne de charque, ou ainda oferecimento de algumas frutinhas como cortesia, tais quais o caju, o umbu e a cerveja mais gelada da região, além do velho “fiado”, mantido à décadas nas famosas cadernetas.
Com o passar dos tempos, muitos fregueses (clientes) marcaram território nas bodegas, jogando conversa fora, a procura de algum divertimento como uma partida de baralho, dominó ou dama, para fazer “uma fezinha” no jogo do bicho ou simplesmente para tomar aquela “bicada” antes do banho para espalhar o sangue ou antecedendo às refeições para abrir o apetite. Esse peregrinar de pessoas se tornou constante sendo que alguns se tornaram figuras muito ligadas ao local pelo tempo e horário de permanência, sendo que outros foram muito esporádicos mas que também deixaram suas marcas. A lista desses fregueses é enorme e dentre muitos podemos citar João Guerreiro, Manoel Balé, Terezinha, Cicinho, Magnus Freire, Carlão, Aluízio, Belchior...
A bodega de João Lopes é uma referência na Rua Dr. Oscar Brandão bem como na cidade, pois, mesmo que alguém nunca tenha entrado lá, sabe da existência dela para explicar um endereço a alguém, por exemplo. Diante disso, podemos afirmar que a bodega já faz parte do cenário composto pelo casario que compõem aquela via pública, uma das mais importes e maiores ruas da cidade. Ela tá ali resistindo ao tempo, em sua simplicidade e ao mesmo tempo lembrando para nós de sua importância histórica, social e econômica.
A singularidade da bodega de João Lopes ultrapassou os umbrais do tempo, de suas cinco décadas de existência até os dias atuais. Sua arquitetura é bastante simples. Uma construção não muito alta. A bodega foi erguida em pequeno terreno que a torna estreita e pequena, porém não menos acolhedora. Em seu salão de entrada podemos encontrar alguns bancos, mesas e tamboretes e o famoso balcão de madeira dividindo os dois lados: o dos fregueses e o dos proprietários, onde ficam as mercadorias a serem negociadas. É nessa parte interna que fica uma mesa onde está a carne seca para ser cortada e pesada, a famosa carne de charque e aquela peça que não poderia faltar: a fiel balança, onde os produtos são pesados, embalados e liberados para os clientes.
João Lopes Filho constituiu família, unindo-se à senhora Maria da Cruz e desse relacionamento nasceram os seguintes filhos: Janilza Lopes, Aliri de Souza e Janilson Lopes, que aumentaram a prole presenteando a todos com sete netos que já asseguram a longevidade da descendência da Família Lopes.
Fonte: Historiador Gerinaldo Moura
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