Bolsonaro quer “trabalhar” preço do combustível e crédito na Caixa
De quantas intervenções se faz uma crise econômica? O presidente Jair Bolsonaro anunciou que pretende “trabalhar” os preços dos combustíveis, e Pedro Guimarães, à frente da Caixa, disse que o banco público prepara uma proposta bombástica e que mais de 100 milhões de pessoas terão linha de crédito diferenciada. Ele não deu detalhes.
Teve mais. O anúncio mirabolante de crédito foi logo seguido por uma notícia de Malu Gaspar, no Globo. Guimarães teria ameaçado banqueiros das instituições privadas durante as negociações da tal da carta da Febraban/Fiesp que pedia harmonia entre os poderes. Se assinassem tal documento, eles poderiam perder contratos com o governo federal.
Ainda mais. O governo entregou ainda a proposta de Orçamento para 2022 com um rombo de R$ 50 bilhões já na largada e, para arrematar, o ministro de Minas e Energia, general Bento Albuquerque, falou em rede nacional sobre o risco de apagão por causa da crise hídrica. Ele precisa comunicar o novo aumento na conta de luz e ainda o programa para incentivar a economia de energia – a saber, o desconto na conta será bancado com um aumento na tarifa de todo mundo, segundo o Estadão. Genial, não?
Omitindo os nomes dos personagens, todas essas notícias poderiam muito bem pertencer ao período de 2013 a 2016. Quase que ironicamente, nesta terça-feira (31) fez cinco anos que o Senado confirmou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A justificativa legal, você sabe, eram as pedaladas (olá, parcelamento de precatórios!). Na prática, reclamava-se de inflação, interferência na Petrobras, aumento na conta de luz, políticas populistas com bancos públicos, irresponsabilidade fiscal e aparelhamento do governo. Tudo o que está no noticiário de hoje.
Nesta terça, a bolsa brasileira caiu 0,80%, a 118.781 pontos. No mês, a baixa acumulada foi de 2,48% – totalmente na contramão do exterior, como falamos aqui ontem. Os juros futuros, que no limite medem o medo de investidores financiarem o governo, subiram. Já o dólar conseguiu descolar um tanto do cenário sombrio e fechou em queda seguindo o exterior. Cedeu 0,34%, a R$ 5,1719. Na mínima do dia, porém, foi a R$ 5,1167.
Ah, ontem houveram duas notícias positivas: o desemprego caiu para 14,1% no trimestre encerrado em julho, ante 14,7% no período até abril, segundo o IBGE. 14,4 milhões de brasileiros continuam em busca de trabalho. O outro dado positivo é que a dívida pública brasileira caiu pelo quinto mês seguido e mais do que o mercado esperava: foi a 83,8% do PIB. A dívida total, em termos reais, continua subindo. A queda, portanto, é atribuída ao avanço um pouco maior do PIB – os números do segundo trimestre serão conhecidos amanhã às 9h.
O ponto é que, mais uma vez, dois dados positivos não foram capazes de conter a queda da bolsa, e o governo foi novamente o responsável pelo dia vermelho na B3.
Fonte: Revista Você S/A
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