Covid, vulcão e “invasão”: os bastidores do Flamengo até a vitória em Guayaquil
Cinco dias, nove casos de Covid-19, incontáveis problemas e três pontos redentores na bagagem. Se o Flamengo sofreu com o 5 a 0 para o Independiente del Valle na altitude de Quito, a passagem por Guayaquil foi ainda mais estressante. Lesão, exames, cobranças e até um vulcão tiraram o sono da delegação rubro-negra até a importantíssima vitória por 2 a 1 sobre o Barcelona, pelo Grupo A da Libertadores.
O Flamengo viajou para Guayaquil ainda na noite de quinta-feira, atordoado pela goleada para o Del Valle, e não teve um só dia de paz. O ápice da confusão aconteceu na tarde de terça-feira, horas antes do jogo, quando um batalhão de equatorianos invadiu o hotel onde a delegação estava hospedada em episódio que colocou em risco a realização do confronto.
Cronologicamente, os problemas começaram na sexta-feira. Em meio às cobranças e debates sobre a situação de Domènec Torrent e a péssima atuação em Quito, Gabigol queixou-se de dores musculares na coxa e realizou exames. O resultado indicou a lesão que tirou o atacante de combate.
No sábado, foram realizados os exames de Covid-19 para a partida contra o Barcelona, e domingo as notícias ruins tiraram a paz dos rubro-negros. Primeiro, oito casos positivos: Isla, Matheuzinho, Filipe Luís, Diego, Bruno Henrique, Michael, Vitinho e Marcos Braz. Apreensão total e todos foram isolados até que fosse feita a contraprova.
Neste meio-tempo, cinzas do vulcão Sangay, localizado em Morona Santiago e que entrou em atividade, tomaram conta do céu de Guayaquil, impedindo atividades ao ar livre. O elenco teve que fazer um treino leve no hotel.
A nova leva de exames indicou que os seis atletas estavam realmente contaminados, enquanto o resultado de Marcos Braz era apenas um falso positivo. O Flamengo divulgou que os atletas estavam assintomáticos, mas Diego Ribas publicou vídeo em rede social revelando algum mal-estar. Restava Vitinho, que teve a Covid-19 confirmada em contraprova somente na segunda-feira.
A esta altura, o Flamengo já tinha noção de que existia um surto da doença e vivia a expectativa de novos casos. Ainda na segunda, Márcio Tanure, chefe do departamento médico, e o ex-zagueiro Juan apresentaram sintomas e realizaram novos exames. A confirmação dos casos no início da terça-feira foi o estopim para os questionamentos das autoridades equatorianas.
Era horário de almoço, a delegação ocupava o andar reservado para o Flamengo conforme é padrão em todas as viagens, quando dezenas de equatorianos entraram não só no hotel, mas também neste espaço. O episódio gerou constrangimento e preocupação, além de jogar por água abaixo todos os protocolos de combate ao coronavírus.
Tratava-se de autoridades sanitárias da prefeitura de Guayaquil, que não somente cobraram explicações do Flamengo para as contaminações como convocaram a imprensa local para acompanhar a vistoria. Quem acompanhou a cena relata preocupação e constrangimento dos rubro-negros não só pelos questionamentos incisivos como pela proximidade com pessoas que não passaram por testagem prévia.
Marcos Braz e Bruno Spindel tomaram frente das tratativas. O vice de futebol chegou a dar uma entrevista coletiva e deixou claro que aguardaria uma posição oficial da Conmebol. Apesar do risco de interdição do estádio Monumental – o que chegou a ser até anunciado pelas autoridades equatorianas -, o Flamengo seguiu a programação normal visando o jogo.
O episódio evidenciou aos presentes também um distanciamento que já saltava os olhos durante toda a viagem entre o departamento de futebol e os outros dirigentes que faziam parte da delegação. Apesar de Marcos Braz falar em “unidade” em coletiva no sábado, os relatos são de pouquíssimo contato entre as partes, apenas raros cumprimentos de “bom dia”.
Como se não bastassem os contratempos em Guayaquil, os responsáveis pela logística passaram a noite em claro resolvendo problemas no voo que levaria quatro jovens da base para o Equador e transportaria os contaminados de volta para casa. Foram mais de 24 horas entre contatos com órgãos responsáveis do Brasil, do Peru e do Equador.
João Lucas, Nathan, Guilherme Bala e Rodrigo Muniz saíram na manhã de segunda-feira do Rio, passaram por Goiânia, fizeram um pouso inesperado em Manaus e só chegaram a Guayaquil três horas antes do jogo. Uma verdadeira epopeia.
Passados os cinco dias tensos e estressantes, o Flamengo ao menos teve 90 minutos de alegria. A vitória por 2 a 1 serviu de recompensa para quem encarou tantos problemas. A despedida do Equador foi uma mistura de alegria e alívio.
Fonte: Globo Esporte/Gávea News
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