Foto disponibilizada pela internet
ESTÓRIAS DE CAÇADORES
Maria da Conceição Cruz Spineli
Ocupante da Cadeira 19 da ACLA
As caçadas dos preás nas noites escuras do Vale são organizadas em grupos de pessoas que se embrenham no mato, na capoeira, no canavial, também são repletas de surpresas para os participantes. Além da Caipora, se deparam com outras entidades que também são respeitadas pelos caçadores.
Os participantes vão à noite sem lua cheia, só vão em noites muito escuras, munidos de lanternas, bisacos e espingardas. Na escuridão eles identificam os preás, seus olhos aparecem como duas bolas vermelhas, eles acendem a lanternas e jogam o facho de luz que hipnotizam a caça. O caçador segura a lanterna, que continua acesa, e a espingarda numa mão só, e atira na presa.
Existe uma regra entre eles que é seguida à risca: se sentirem algo diferente, falam na hora “vamos embora, hoje não dá certo”. Só falam o que sentiram ou viram já na cidade, nunca no mato, no lugar da caçada.
Um desses caçadores me contou que numa dessas caçadas se dispersaram no aterro depois do Rio dos Homens, cada qual foi para lados diferentes. Ele sondando o lugar acendeu sua lanterna em direção a um viveiro de peixes ali existente, qual não foi seu susto, o feixe de luz foi em cima de uma figura pelo menos estranha naquele lugar, ele paralisou, não saía um grito de sua garganta, suas pernas não ajudaram. Ele me descreveu a visagem como a de um senhor da estatura de um anão, de cor preta, preto cinzento, cabelos e barbas longas, bem branquinhos, vestindo camisa de manga três quarto com botões, aberta ao peito, calças na altura do meio das pernas “pega bode”, descalço, e os pés muito largos, mais largos que compridos, como se fossem pés de pato, e carregando um saco vazio jogado ao ombro. Ele viu a figura do anão saindo, indo embora para o lado oposto. Refeito em parte do susto, subiu o aterro e falou para o companheiro da caçada: “vamos que hoje não vai dar certo”, os dois sentiram arrepios, um cheiro forte de jasmim e ouviram o assobio da Caipora vindo de longe. Ele também me disse que se o assobio da Caipora é ouvido de longe, é porque ele está perto; se ouvido por perto, ela está longe. Ali mesmo encerraram a caçada planejada para aquela noite.
Esse homem voltou a aparecer para o mesmo caçador, desta feita à luz do dia, umas duas horas da tarde, quando ele, na carroceria de uma caminhonete, com o mesmo colega que estava com ele na primeira aparição, estavam indo para uma outra caçada. A caminhonete passava pelo Guaporé, antiga morada dos ascendentes do escritor Nilo Pereira e dele próprio. Foi quando ele viu a figura do mesmo velhinho saindo de lá, atravessando a estrada e caminhando em direção ao Engenho Carnaubal, logo após o rio do Maceió. Falou para o amigo: “olha aquela figura que está atravessando a estrada”, mas só ele conseguia vê-lo.
Seria um antigo escravo perambulando por aquelas bandas? Seria um duende?
Pelo que me foi relatado parecia um ser humano.
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