quarta-feira, 6 de março de 2019

TAMBÉM EXISTE O TURISMO EM CEMITÉRIO


O TURISMO DE CEMITÉRIOS

Mário de Andrade, Caio Prado Jr. e  Tarsila do Amaral. O que essas pessoas têm em comum? Uma coisa é certa, estão enterradas no mesmo cemitério. Pode parecer estranho para alguns, mas turismo em cemitérios existe, ainda mais quando personalidades dessa estirpe estão enterradas no mesmo lugar.

Mas antes de continuar, vale um breve histórico sobre a construção dos nossos primeiros cemitérios.

Das igrejas aos cemitérios

A construção de cemitérios como conhecemos hoje  não é prática tão antiga quanto podemos imaginar. Em São Paulo, o primeiro só foi construído em 1858, o cemitério da Consolação, e o segundo quase trinta anos depois, o cemitério do Araçá, em 1887. Antes disso, as pessoas eram enterradas nas igrejas, dentro ou nos pátios. O motivo não é difícil de imaginar: a suposta proximidade com os santos facilitaria a entrada sem filas no céu. A única exceção eram os escravos e enforcados, enterrados no cemitério dos Aflitos.

Mas embora a resistência daqueles que insistiam em manter o local de enterro nas igrejas, as pessoas por convicção e os padres e bispos por fonte de renda, a Câmara de São Paulo conseguiu viabilizar a construção do cemitério da Consolação. Mas é importante frisar que essa discussão já circulava no legislativo municipal desde 1829. Ou seja, foram praticamente trinta anos até conseguirem o aval.

Necroturismo: a história a partir da necrópole

O cemitério da Consolação conta com visitas guiadas há mais de dez anos, que além de personalidades que são parte da história nacional e da cidade, oferece aos visitantes verdadeiras obras de arte com suas esculturas e mausoléus. No cemitério da Consolação, por exemplo, você encontrará o túmulo de Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Ramos de Azevedo, Antoninho da Rocha Marmo, Mário e Oswald de Andrade. Além de obras de Victor Brecheret, Nicola Rolo e Luigi Brizzolara, por exemplo.

Mas outros cemitérios pelo mundo também figuram como importantes pontos turísticos: Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro; o Cemitério da Recoleta, em  Buenos Aires; Cemitério Nacional de Arlington, em Washington; o Cemitério de Highgate, em Londres; e o Zentralfriedhof,em  Viena.

Em todos esses espaços, o que chama a atenção são os mortos, ou melhor, suas lápides, já que a maioria faleceu a tempo suficiente para não restar sequer as cinzas.  Confesso que acho estranho essa espécie “fanatismo fúnebre”, mas também admito que em alguns casos não resistiria à visita. Talvez por uma falsa ideia de proximidade, como se a lápide  estivesse lá para cumprir uma falta física de alguns personagens da nossa história.

De qualquer forma, a quem interessar, vale a visita. Crendices de lado, cemitérios como o da Consolação são museus a céu aberto e reservam um bom passeio entre obras de arte com chances de cruzar por lápides de figurões. E já que nossos textos tratam geralmente de espaço urbano, vale o comparativo das necrópoles com nossas cidades. A diferença dos casarões e dos casebres, dos prédios e barracos, se reproduz nos cemitérios.

Basta ver a monumentalização dos jazidos para imaginar o privilégio das famílias.  Pois mesmo depois de morto, para certa elite, é tempo de ressaltar as diferenças. Mas esse assunto fica para outro texto.

Por Pedro Veríssimo


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