“O Pastor e o Guerrilheiro”: filme inspirado em livro do potiguar Glênio Sá estreia dia 13 de abril nos cinemas
“Antes de levarem-no embora, tínhamos combinado de nos encontrar na torre de Brasília, ao pôr-do-sol, no dia 31 de dezembro de 1999. Iríamos, juntos, assistir o nascimento do ano 2000”. O trecho do livro “Araguaia – Relato de um Guerrilheiro”, escrito pelo potiguar Glênio Sá, inspirou uma ficção histórica. Trata-se do filme “O Pastor e o Guerrilheiro”, dirigido por José Eduardo Belmonte, que estreia nos cinemas brasileiros no próximo dia 13 de abril. Em Natal, a trama será exibida no Moviecom do Praia Shopping.
O relato que costura o longa-metragem revela a indignação de Glênio, estudante secundarista, com as injustiças e mostra como o descontentamento ganha corpo e tem escoadouro na militância revolucionária ao ingressar no Partido Comunista do Brasil. Daí para aderir com entusiasmo à resistência armada no Araguaia foi apenas questão de tempo.
Quando este livro chega às mãos do produtor Nilson Rodrigues, ainda na década de 1990, ele se encanta com a imagem do encontro selado entre o comunista e o evangélico para a virada do milênio. O potencial imagético é a fonte para anos mais tarde se transformar em argumento para o filme “O Pastor e o Guerrilheiro”.
O encontro nunca aconteceu. Glênio Sá, líder comunista, ex-preso político e único norte-rio-grandense a lutar na Guerrilha do Araguaia, morreu em 26 de julho de 1990, num acidente automobilístico ainda não esclarecido. E o fato terá um desfecho diferente do que foi combinado nas celas do Pelotão de Investigações Criminais (PIC) do Exército, em Brasília.
No longa-metragem, o livro chega às mãos de Juliana (Julia Dalavia), estudante da UnB e filha bastarda de um general. Ela fica obcecada pelos relatos e pelos personagens daquele livro e seguindo as páginas do livro sai em busca de sua própria história. Em um diálogo do filme, Juliana define assim o livro: “É tipo um diário do Che, só que com mais mosquito e uma guerrilheira fodona“.
“Tenho orgulho do meu pai ter feito parte dessa resistência tão importante, que foi a Guerrilha do Araguaia, e de que suas vivências inspirem histórias como as contadas nesse filme“, afirma o filho mais velho de Glênio, Gilson Sá, ao falar sobre as expectativas da família com a estreia do filme.
“Espero que o filme traga mais clareza à sociedade sobre este momento obscuro e de grande efervescência política do país, ao tratar dos conflitos que se deram conta o golpe militar, que ao longo da história têm sido escondidos. Ainda hoje tentam apagar o direito à verdade dos acontecimentos sucedidos nesse período“, avalia Gilson.
Rodado em Brasília, com cenas na UnB, e nas margens do rio Araguaia no estado do Tocantins, o filme “O Pastor e o Guerrilheiro” vem se somar às obras cinematográficas produzidas no país com a temática da ditadura militar e contribuir para que não aconteça o apagamento da memória.
“Muito feliz em ver uma história tão rica, um misto de amor e coragem, que tive a oportunidade de escutar tantas vezes, narrada por ele, desde que nos conhecemos, no final da década de 70, inspirar produções cinematográficas. Viva o cinema brasileiro! Viva a luta desse companheiro incrível, que foi Glênio Sá! Estará presente, sempre, em minha vida, na dos nossos filhos, Gilson Sá e Jana Sá, e das nossas netas, Ana Beatriz e Manuela”, afirma a companheira de Glênio Sá, Fátima Sá.
Passado e presente
“O filme cuida de resgatar a memória dos horrores da ditadura militar e dos militantes que a combateram, inspirado no livro do militante Glênio Sá”, define o produtor Nilson Rodrigues. Nesta quinta (13), ele participa do programa de entrevista da Agência Saiba Mais no YouTube, o Balbúrdia.
Para ele, a obra “traz questões importantes para o momento atual, quando na virada do milênio a estudante descobre a história quando está na universidade lutando pela implantação das cotas raciais. E também mostra a ascensão dos neopentecostais no ano de 1999, quando vemos o evangélico que esteve na cadeia durante a ditadura em conflito com seu filho, que quer buscar um caminho mercantilista pra sua igreja. Um filme que mostra os impactos da ditadura nos tempos atuais”.
O longa-metragem “O Pastor e o Guerrilheiro” chega ao público de todo o Brasil na próxima quinta-feira, 13 de abril, mas ele já foi assistido por mais de 6 mil alunos do ensino médio e dos institutos federais de Brasília. Por meio do Projeto Escola no Cinema – Circuito Brasileiro de Cinema -, nos meses de fevereiro e março, foram realizadas pela Associação Amigos do Cinema e da Cultura, pré-estreias e debates com alunos e professores em várias escolas públicas.
Fonte: Agência Saiba Mais
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