terça-feira, 15 de janeiro de 2019

ANÁLISE E CONJUNTURA POLÍTICA

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A FISIOLOGIA DO PODER ACABA SE IMPONDO
COM SEUS INEVITÁVEIS TRAÇOS TRIBAIS

Não acredite na sinceridade do governante quando diz que a existência de uma oposição forte e a alternância são essenciais para as coisas andarem bem. É cascata. Todo líder deseja eliminar os oponentes ou cooptar (uma forma de eliminação), e perpetuar no poder a ele e/ou ao grupo.

"Política não fisiológica" é um paradoxo. A política é o exercício da fisiologia que mantem vivo o organismo das relações de poder.

Se o primeiro ministério de Luiz Inácio Lula da Silva premiou essencialmente o PT, o gabinete inaugural de Jair Bolsonaro não obedece, para espanto de alguns, a fantasia do "critério técnico". Leis da natureza são teimosas.

A equipe do governo sustenta-se essencialmente em quatro partidos:
PEM (Partido da Economia de Mercado)
PM (Partido dos Militares)
POC (Partido do Olavo de Carvalho)
PLJ (Partido da Lava Jato)
Siglas que mesmo não registradas no TSE ajudaram a construir o desfecho eleitoral.

Há também tribos não tão contempladas quantitativamente, mas ainda assim essenciais.
PA (Partido do Agronegócio)
PE (Partido dos Evangélicos)
Na extrema periferia do sistema, políticos não "puros" mas sortudos, sobreviventes da caça à política.

As legendas informais têm as características dos seus irmãos formais. Têm chefes, regras internas, programa. E uma disciplina a seguir, e portanto a ser imposta. Se não se investe energia para manter o edifício organizado, a tendência natural é desorganizar.

Uma diferença aparente de Bolsonaro para Lula é que este só tinha, a rigor, um partido para premiar. Mas se a coisa for olhada mais de perto fica claro que não era bem assim. O PT organizou-se como um partido de tendências, e o presidente precisou/decidiu contemplá-las todas.

As melancias vão se ajeitando na carroceria do caminhão conforme os solavancos da estrada. Algumas frutas despedaçam-se, outras caem no caminho. Isso não é problema. Onde está o xis da questão? Na capacidade de o presidente mediar os conflitos para uma resultante boa.

Aí é que mora o perigo. Que solução Jair Bolsonaro providenciará para o conflito entre os evangélicos e o agronegócio (e outros ramos do empresariado) em torno da mudança ou não da embaixada em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém? Uma hora o presidente vai ter de resolver.

Como fazer os políticos votar uma reforma da previdência que possa ser vendida ao público como justa e ao mesmo tempo preservar, ao menos em parte, as condições privilegiadas dos segmentos da burocracia estatal decisivos para a eleição do atual presidente da República?

A lista só vai crescer com o passar do tempo. Um dia alguém disse que o presidente dos Estados Unidos talvez se achasse o sujeito mais poderoso da Terra, mas não passava mesmo era de um guarda de trânsito. Organizando um tráfego mais ou menos caótico, mas um guarda de trânsito.

E tudo feito de um jeito de que possa ser explicado.

Por Alon Feuerwerker
FSB Conjuntura


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