terça-feira, 23 de janeiro de 2024

CONTOS DO ESCRITOR ADVOGADO E CEARÁ-MIRINENSE DR. RICARDO SOBRAL SÃO ELOGIADOS PELA MÍDIA CULTURA DO RIO GRANDE DO NORTE

Zé do Mundo

Por: Vicente Serejo - Cena Urbana

Veja, Senhor Redator: se um dia tivesse que roubar um personagem, para com ele realizar o sonho de um grande romance, roubaria do advogado Ricardo Sobral a figura humana de Zé do Mundo. Li sua pequena história na crônica que publicou para seus leitores, nas redes sociais. Era um homem baixo, muito forte, de uma força física que espantava. Nos dias alegres do carnaval, fazia o papel do caçador na tribo de índios desfilando nas ruas velhas e quietas de Ceará Mirim.

Quando li a história, telefonei a Ricardo Sobral e disse que aquela figura tinha a riqueza de um personagem digno do genial Gabriel Garcia Marques. Quem sabe, da sua Macondo, em Cem anos de solidão. Mesmo sem saber, Zé do Mundo foi o grande caçador que num enredo invertido, como um pobre herói anônimo das ruas, acabou sendo a representação perfeita dos garimpeiros que hoje levam a desgraça e a miséria ao povo Yanomami, agora flechados pela ambição humana.

Feito na dureza da vida, forjado na luta pela sobrevivência, era como se Zé do Mundo, na sua pureza, deixasse em casa, presa no quintal, toda aquela sua coragem física para, no Carnaval, ser o caçador. E então, sob o olhar amoroso do povo, bailava com sua espingarda de faz de conta, no meio dos índios, com a leveza de um grande bailarino no espetáculo da alegria, mesmo sabendo que seu destino, na última cena, seria o de morrer flechado pelos índios como um símbolo do mal.

Sua morte triste revela a riqueza da herança. Do significado que deixou como a metáfora de uma denúncia que se a realidade não criou, a literatura, essa criadora de mundos, seria capaz de inventar. É ele, sim, na sua Macondo, muito antes da cidade de Gabriel Garcia Marques inventá-la. Tão real que acaba por denunciar todas as Macondos do mundo, se a ambição dos homens é a mesma em toda parte. Há sempre, em qualquer lugar, uma cidade entre lutas e conflitos sociais.

Quando li a história de Zé do Mundo, confesso, tive a certeza de que ela existe com os seus poderosos, numa trama que emociona como se fosse de verdade. E é. A criação literária sopra vida nas pessoas, seus lugares e histórias. Onde fica Macondo, se é fictícia e se só existe no romance de Gabriel Garcia Marques? Nos confins da Colômbia, dirá um crítico literário. Não. Macondo fugiu de lá para também existir nos bairros miseráveis, favelas, nos guetos pobres, em toda parte.

Para Garcia Marques – e ele disse ao receber o Prêmio Nobel – seria bom que todos os povos tivessem, mesmo miserável, o direito de escolher a própria morte. Zé do Mundo escolheu ser caçador da tribo de Ceará Mirim, a Macondo do canavial. Toda aldeia, vila ou cidade deveria ter um Zé do Mundo, aquele que escolheu como queria morrer. Afinal, Zé do Mundo, mesmo muito pobre, preferiu ser um caçador. E treinar, todos os anos, para morrer em pleno carnaval…

Palco

REAÇÃO – Está correta a informação de Edvan Martins: quem pediu a degola dos indicados da vereadora Nina Souza foi a bancada de vereadores por quebra de compromisso com todos eles.

FALHA – O que parece ter faltado, foi a sacada final: a palavra forte de um vereador governista para assumir que a bancada exigiu a demissão. E Álvaro pagou, sozinho, pela decisão implacável.

LUTA – O ex-senador José Agripino sabe que a eleição de Paulinho Freire pode levá-lo a uma vitória. Mas, o preço da derrota será muitas vezes maior, se é que pretende disputar um mandato.

ALIÁS – Por isso, as fontes próximas do ex-senador defendem seu apoio ao ex-prefeito Carlos Eduardo Alves que hoje lidera as pesquisas. Mesmo Paulinho Freire sendo do seu União Brasil.

LIÇÃO – A edição especial do livro ‘Lição de Coisas’, de Carlos Drummond de Andrade, José Olympio, 2023, marca os sessenta anos da sua edição original. É a lição de como se faz um livro.

GRAÇA – Neste 2023, setenta anos da morte de Graciliano Ramos, a homenagem é o ensaio ‘Graciliano, romancista, homem público, antirracista’, de Edilson Dias de Moura. Edição Sesc.

POESIA – Do grande poeta Carlos Drummond de Andrade, aqueles dois versos que valem como um dístico, numa bela e suave lição de amor: “O que se passa na cama / é segredo de quem ama”.

NAVALHA – Dino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, ainda rindo com a navalhada que ouviu ontem, ao cair da tarde: “Hoje a política no Rio Grande do Norte está cheia de vereadores”.

Camarim

TÍTULO – Dia 28 de fevereiro, 16h, o Instituto Ludovicus promove a solenidade de entrega dos dez títulos de Sócios Honorários da instituição pelos serviços prestados em favor da valorização e divulgação da obra de Câmara Cascudo. O mais importante intelectual do Rio Grande do Norte.

NOMES – São honorários: Bernard Alléguède, Eduardo Luiz da Câmara Cascudo, Diógenes da Cunha Lima, Daladier Cunha Lima, André Augusto Malcher Meira, Sandra Simões de Souza Dantas Elali, Jurandyr Navarro da Costa, Manoel Onofre Jr., Luiz Alves Junior e este cronista.

HUMOR – O advogado e escritor Ricardo Sobral lançou nas redes sociais ‘A Última Lei do RN’, “aprovada pela Assembleia e tornando extinto o Estado do Rio Grande do Norte”, em razão da declarada teimosia de eleger gestores despreparados para o comando eficiente da coisa pública.

*Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

Fonte: Tribuna do Norte


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