quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

O TURISMO PODE MODIFICAR ESSA REALIDADE

Panorâmica do Vale (Foto: Mardone França)

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA REGISTRA ABANDONO DE ANTIGOS ENGENHOS DE CEARÁ-MIRIM

Um sábado de dezembro de 2018. Um grupo composto por cerca de 30 pessoas parte para uma excursão em Ceará-Mirim, a 28 quilômetros de Natal. Mais precisamente nos antigos engenhos de cana de açúcar que, um dia durante o Brasil Império, nutriram o poder e a riqueza da região. A experiência trouxe boas e más recordações para quem visitou o local.


“Deu o sentimento de encantamento pela suntuosidade das construções. Mas, ao mesmo tempo, fiquei espantado pelo abandono da arquitetura e também da história. Quem tem noção do valor do patrimônio se choca com a situação. Fotografei para ficar pelo menos com o registro na parede”. Essa foi a impressão do fotógrafo Mardone França.

Cearense morando há 40 anos no RN, ele já conhecia o município de Ceará-Mirim. Contudo, ainda não tinha conhecimento do antigo polo açucareiro do estado. Para França, o circuito composto pelos antigos engenhos poderia se tornar referência para o turismo potiguar.


“É preciso ter o que mostrar. Praia não é mais diferencial. O Nordeste inteiro tem praias. Os engenhos poderiam ser restaurados e transformados em museus para os turistas. Mas, se medidas não forem tomadas, tudo vai acabar virando pó”, analisou.

Dos locais visitados pelo grupo, o Engenho São Leopoldo é o que aparenta estar em melhores condições para receber visitas. O ponto, que foi a parada para o almoço do grupo, ainda conserva maquinário e utensílios antigos. Além desse, os engenhos Verde Nasce, Mucuripe e Nascença também apresentam boas condições de conservação.


O passeio é realizado pelo guia Francisco Ferreira. Vestido à caráter, ele é conhecido como Barão de Ceará-Mirim. E de onde veio essa alcunha? O Barão de Ceará-Mirim foi um dos principais nomes da economia açucareira. O nome verdadeiro dele é Manoel Varella do Nascimento (1802-1881) e foi o primeiro de quatro barões do RN.

Em seus ensinamentos aos visitantes, Francisco Ferreira – o Barão – se veste como o original e conta detalhes da história. “Faço essa rota há mais de 10 anos. A primeira sensação que as pessoas têm é de estar no Brasil Império. A gente se veste à caráter e mostra como se realmente estivesse no período. A ideia é resgatar essa época e trazer a tradição do baronato para a região”, contou o Barão.

Durante o passeio, outro fator chamou a atenção de Mardone França. Ele contou que os banheiros ficavam a cerca de 100 metros das casas. Quando as madames queriam fazer suas necessidades, elas eram levadas por escravos até o local. “Fiz foto de tudo”, acrescentou.

Engenho Ruy Pereira (Foto: Mardone França)

Com vários engenhos pelo caminho, o fotógrafo relatou também as dificuldades. Segundo ele, havia acesso aos prédios abandonados, no entanto, havia também o risco para a integridade de cada um.

“Nós conseguimos ter acesso a todos eles. Mas era preciso ter cuidado, muitos tinham várias casas de marimbondos, outros tinham partes deterioradas, poderia desabar em cima de alguém. Tudo foi feito com muito cuidado”, explicou.

A rota, de acordo com Francisco Ferreira, passa pelos engenhos e também por prédios localizados no centro da cidade e custa a partir de R$ 10.


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