Hospital Municipal de Natal pode não funcionar por falta de recursos para 1.500 contratações
Avaliação foi feita pelo presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte, Geraldo Ferreira, em entrevista à Mix FM
O Hospital Municipal de Natal, construído com a promessa de ampliar o atendimento na capital potiguar, pode não abrir as portas por falta de condições financeiras da prefeitura para arcar com os custos de pessoal e equipamentos. A avaliação foi feita pelo presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte, Geraldo Ferreira, em entrevista à Mix FM. Segundo ele, a própria Câmara Municipal já reconheceu que o município não tem orçamento para colocar a unidade em funcionamento. “Seriam necessários cerca de 1.500 contratados, além da compra de uma quantidade enorme de equipamentos. É um hospital gigante, mas não há como sustentar esse custo”, afirmou.
O médico alertou que a construção de novas estruturas, sem previsão de custeio, apenas transfere os problemas. Para ele, existe o risco de o hospital funcionar como substituto do Walfredo Gurgel, e não como reforço à rede. “Quando o Hospital Municipal for aberto, vão fechar outro. Isso já ocorreu em outras ocasiões. O discurso é de ampliação, mas, na prática, ocorre apenas a troca de prédios”, disse. Ferreira lembrou que o Governo do Estado já anunciou a construção de um hospital metropolitano e teme que se repita a mesma lógica: inaugurar uma nova unidade para desativar a anterior, sem aumentar a capacidade real de atendimento.
Outro ponto apontado por ele é que a saúde estadual enfrenta um déficit financeiro contínuo, o que compromete a manutenção das unidades existentes. O governo acumula dívidas com fornecedores de órteses e próteses e chegou a suspender o fornecimento de materiais ortopédicos por dois dias em agosto por falta de pagamento. O sindicato calcula que, apenas nos seis primeiros meses de 2025, a dívida acumulada do Estado na saúde chegou a quase R$ 300 milhões. O repasse necessário para manter a rede estadual gira em torno de R$ 80 milhões por mês, mas o governo tem desembolsado cerca de R$ 40 milhões, gerando um déficit mensal próximo a 50%.
Geraldo Ferreira relacionou essa falta de recursos à situação do Hospital Municipal de Natal. Para ele, mesmo que a unidade fosse equipada e inaugurada, a tendência seria de paralisações constantes. “Se o município não tem como pagar os profissionais e manter os serviços básicos, não adianta erguer um prédio desse porte. A consequência será a mesma que já vemos: fechamento de alas, suspensão de atendimentos e falta de insumos”, afirmou.
O presidente do sindicato ainda questionou a expectativa de terceirização como solução para o problema. Ele explicou que a contratação de organizações sociais e cooperativas tem sido considerada uma saída pelo poder público, mas classificou o modelo como irregular. “As empresas contratam profissionais com escala fixa e salário mensal, mas se apresentam como se não houvesse vínculo trabalhista. A Justiça do Trabalho já reconheceu que isso é ilegal e o Supremo Tribunal Federal vai analisar o caso em setembro”, observou. Para ele, esse modelo abre brechas para corrupção e já é apontado por tribunais de contas e pelo Ministério Público do Trabalho como falho.
Na entrevista, transmitida pela Mix FM, Geraldo Ferreira reiterou que não se opõe à participação de empresas privadas em situações pontuais, mas exige que seja feito dentro da legalidade. Ele argumentou que o financiamento da saúde pública precisa ser garantido por receitas previsíveis e não depender de emendas parlamentares ou arranjos temporários. “Não somos contra empresas, queremos apenas que trabalhem de forma legal. O custeio da saúde não pode ficar sujeito a promessas de emendas ou a contratos precários”, concluiu.
Fonte: AgoraRN

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