segunda-feira, 31 de março de 2025

ESTUDANTE NASCIDA EM NATAL E ASSASSINADA PELA DITADURA TERÁ DIPLOMA HONORÍFICO DADO PELA USP

DEMOCRACIA - USP vai diplomar estudante de Natal morta na ditadura

Universidade de São Paulo (USP) vai conceder um diploma honorífico à estudante potiguar Lígia Maria Salgado Nóbrega, perseguida e morta pela ditadura militar em 1972, aos 24 anos.

A estudante nasceu em Natal mas viveu em São Paulo desde criança, tendo cursado Pedagogia na USP. A homenagem póstuma realizada pela universidade faz parte do projeto Diplomação da Resistência, que tem o objetivo de conceder diplomas honoríficos a 31 estudantes da USP mortos durante a ditadura militar brasileira, a fim de reparar as injustiças e honrar a memória dos ex-alunos. Segundo a Comissão da Verdade da USP, as vítimas fatais na Universidade foram 39 alunos, seis professores e dois funcionários.

“O projeto de diplomação dos 31 estudantes mortos pela ditadura atende a um anseio antigo dos sobreviventes e familiares pelo reconhecimento, por parte da Universidade, de que estes estudantes tiveram suas trajetórias tragicamente interrompidas. É obrigação, tanto da instituição quanto da sociedade civil, refletir sobre esse cenário”, afirmou Renato Cymbalista, coordenador da diretoria de Direitos Humanos e Políticas de Reparação, Memória e Justiça da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), em declaração ao site da instituição.

Para o ativista e pesquisador dos Direitos Humanos Roberto Monte, iniciativas como essa lembram às novas e velhas gerações o que aconteceu. Ele também faz um paralelo entre a luta dos militantes contra a ditadura militar brasileira e dos episódios recentes de atentado à democracia. 

“É muito interessante que faça-se não só esse reconhecimento histórico, mas também coloque o que está atrás de cada uma dessas pessoas e de movimentos. De um lado, você tem movimentos como aquele da turma de Bolsonaro, que são movimentos antinacionais. São pessoas que batem continência para outras potências. São pessoas vendidas à turma de fora. E no outro, você tem jovens idealistas que colocaram tudo em risco, inclusive sua própria vida, como Lígia Maria Salgado Nóbrega”, aponta.

“Você, para querer ser independente, tem que ter conhecimento, tem que ter identidade. Identidade você só consegue quando você conhece a história”, define.

A cerimônia de diplomação honorífica de Lígia Maria Salgado Nóbrega acontece no dia 3 de abril de 2025, às 16h, no auditório da Faculdade de Educação da USP, enquanto outras homenagens a estudantes mortos já estão acontecendo.

Na última sexta (28), por exemplo, a Escola Politécnica da USP fez a diplomação póstuma rememorando a trajetória dos estudantes Lauriberto José Reyes, Luiz Fogaça Balboni, Manoel José Nunes Mendes de Abreu e Olavo Hanssen. Além da cerimônia de diplomação, foi realizada uma exposição e uma roda de conversa antes do evento.

Quem foi Lígia Maria Salgado Nóbrega

Segundo o site Memorial da Resistência, Lígia ingressou em Pedagogia na USP em 1957, “destacando-se por sua capacidade intelectual, por seu empenho em modernizar os métodos de ensino e por sua liderança no Grêmio de Pedagogia."

Em 1970, passou a militar na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), organização de resistência à ditadura militar que contou, dentre outros nomes, com Carlos Lamarca e a ex-presidenta Dilma Rousseff.

Por usa atuação em uma organização de orientação guerrilheira, a potiguar criada em São Paulo passou a viver na clandestinidade e mudou-se para o Rio de Janeiro. Morreu aos 24 anos, em 29 de março de 1972, quando estava grávida de dois meses, durante uma operação policial realizada em uma casa que funcionava como aparelho da VAR-Palmares.

O episódio ficou conhecido como Chacina de Quintino. A ação foi organizada por agentes do Destacamento de Operações e Informações (DOI) do I Exército, contando com o apoio do Departamento de Ordem Política e Social do Estado da Guanabara(DOPS/GB) e da Polícia Militar (PM). 

Fonte: Blog A Cidade


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