Pesquisadores da UFRN buscam patentear medicamento que promete ação diferenciada em tratamento de doenças na unha
Um medicamento na forma de esmalte para unhas, pensado para ser usado no tratamento para onicomicose — infecção causada por fungos que tem como uma das características ‘descolar’ a unha da pele —, é a mais nova tecnologia desenvolvida por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A descoberta é fruto da pesquisa de Aleph Matthews da Silva Souza, na época mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPgCF-UFRN).
Ele pontua que o tratamento da onicomicose é desafiador devido à complexidade para saber as causas da doença, que requer uma formulação com parâmetros adequados e um antifúngico potente. “Essa nossa invenção contém um antifúngico de amplo espectro de ação para combater os diferentes fungos que causam a doença. Além disso, como é uma formulação nanotecnológica, é capaz de ampliar o potencial de ação do antifúngico e diminuir efeitos adversos do ativo”, descreve Aleph. Usualmente afetando as unhas dos pés, a onicomicose atinge cerca de 10% das pessoas, e seu tratamento acontece frequentemente por via oral.
Contudo, é um tratamento extremamente longo e ineficiente. Orientador do estudo, o professor Eryvaldo Sócrates Tabosa do Egito afirma que tratar a doença por via tópica é um desafio, pois os fungos causadores da doença se localizam abaixo da unha e os medicamentos atuais não são eficientes em penetrar a unha e chegar até o local de ação. “Este dispositivo, devido à nanotecnologia empregada, proporciona que o ativo esteja encapsulado em nanogotículas que são capazes de permear a matriz da unha e chegar até os fungos no seu leito, proporcionando a ação antifúngica”, frisa o docente do Departamento de Farmácia.
Ele destaca ainda que, com a mesma lógica de ação, o ‘esmalte farmacêutico’ pode ser usado no tratamento de diversas patologias ungueais (relativas a unha), com destaque para a onicomicose. Tecnicamente, o leito ungueal, ou o leito da unha, fica abaixo da placa ungueal (a parte dura da unha formada pela proteína queratina) e é responsável por prender a unha ao dedo. Já a matriz ungueal localiza-se na base da unha, sendo o local a partir de onde a unha cresce. Essa configuração entre o leito, a placa e a matriz fica prejudicada em situação de ocorrência da onicomicose.
Outro inventor envolvido, Wógenes Nunes de Oliveira, fala que há um protótipo desenvolvido e caracterizado quanto aos aspectos esperados para esse tipo de produto farmacêutico. Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCSA) da UFRN e vinculado ao Laboratório de Sistemas Dispersos (LaSid), local onde os experimentos ocorreram, Wógenes salienta que o protótipo também passou por estudo de estabilidade preliminar, atividade in vitro contra cepas de fungos causadores de onicomicose e permeabilidade das unhas em modelo ex vivo.
Além de Aleph, Sócrates e Wógenes, o depósito de pedido de patente, realizado no mês de novembro, contou com a colaboração de Matheus Cardoso de Oliveira, Lucas Amaral Machado e Éverton do Nascimento Alencar. Eles esperam que, no cotidiano, pessoas que tenham alguma unha acometida por onicomicose possam comprar este medicamento e tratar-se de forma eficiente, rápida e confortável em casa, ao aplicar o esmalte sob a unha infectada.
Para o grupo, o processo de patenteamento, para além das questões de proteção intelectual, é uma grande oportunidade de colocar o inventor em contato direto com o que há de mais inovador no mundo. “A área científica muitas vezes é bastante acadêmica, e muitas das pesquisas que lemos não se traduzem em algo concreto e que impacte na vida das pessoas. Mas, quando nós, como inventores, somos colocados para buscar outras invenções e estudar sobre elas, buscando confrontá-las e também fortalecer nossas próprias reivindicações, ganhamos a oportunidade de lidar especificamente com uma ciência que transpôs as barreiras da comunidade científica e se concretiza como produto ou protótipo capaz de beneficiar a sociedade”, defende Aleph Matthews.
Patenteamento
Na UFRN, o primeiro passo para os interessados em proteger a tecnologia é fazer a notificação de invenção dela. O procedimento ocorre no próprio sistema SIG, na aba pesquisa. Os passos seguintes recebem o acompanhamento da Agência de Inovação da Reitoria (Agir). Dessa maneira, a Universidade procura garantir aos seus cientistas suporte no processo de pedido, auxiliando na escrita e até em questões burocráticas, como a responsabilidade pelo pagamento de taxas. Assim, uma série de atividades necessárias à existência da patente, como quitação de anuidades, pedido de exame e concessão do pedido, são exemplos de atribuições da UFRN, especificamente da Agir.
O ponto culminante é a concessão da patente. Também chamada de Carta Patente, é um documento concedido pelo INPI após análise sobre, entre outros aspectos, os requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. A carta é um ato administrativo declarativo e confere a seu titular a exclusividade de uso, comercialização, produção e importação de determinada tecnologia no Brasil.
A caminhada para a concessão de uma patente exige obediência a critérios temporais previstos em lei. Após o depósito, o Instituto guarda o documento por 18 meses em sigilo. Em seguida, o estudo é publicado e fica o mesmo período aberto a contestações. Passados os três anos, o Instituto parte para a análise em si. Por esse motivo, é comum a concessão ocorrer após quatro anos do depósito.
Fonte: Assessor de Comunicação AGIR/UFRN
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