terça-feira, 10 de dezembro de 2024

UFRN NA VANGUARDA: PESQUISADORES CONSEGUEM TRANSFORMAR SEBO BOVINO EM CATALISADORES DE ALTO VALOR AGREGADO

Pesquisadores da UFRN transformam sebo bovino em produto de alto valor agregado

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) realizou o processo de proteção intelectual de uma tecnologia promissora para processos de conversão e adsorção química, os quais permitem transformar resíduos, como óleo de cozinha e sebo bovino, em produtos de alto valor agregado, como biocombustíveis. Tecnicamente, são catalisadores zeolíticos obtidos por meio de um método inovador e acelerado, economizando tempo e energia, além de evitar o uso de substâncias tóxicas.

“Com esse método, o catalisador obtido possui a versatilidade de converter diferentes tipos de biomassa em produtos com propriedades ideais para o uso como biocombustíveis. Entre seus diferenciais, o dispositivo pode processar até mesmo biomassas residuais, ampliando sua aplicação para materiais descartados em processos industriais e agrários, o que abre portas para uma pesquisa sustentável e inovadora”, detalha Amanda Menezes Caldas. Ela e Aruzza Mabel Morais de Araújo idealizaram o método e lideraram o desenvolvimento prático da invenção.

O depósito de pedido de patente feito junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) foi feito no dia 2 de novembro, recebeu o nome de Zeólita zsm-5, método para síntese da zeólita zsm-5 na ausência de sementes e direcionador usando micro-ondas e tem como inventores também Ângelo Anderson Silva de Oliveira, Dulce Maria de Araújo Melo, Rodolfo Luiz Bezerra de Araújo Medeiros, Amanda Duarte Gondim e Rafael da Silva Fernandes. Ele é fruto de uma colaboração dos laboratórios de Tecnologia Ambiental (Labtam) e do de Análises Ambientais, Processamento Primário e Biocombustíveis (Labprobio).

Aruzza pontua inclusive que, além da rota que resulta em produtos como o diesel verde, a gasolina verde e o bioquerosene de aviação, o catalisador pode ser utilizado como material adsorvente. “Esse material pode absorver efluentes contaminados da indústria, como materiais ou metais pesados. Dito de outro modo, é um catalisador que pode também remover contaminantes, fora as outras aplicabilidades que Amanda citou”, explica.

Catalisadores, como o desenvolvido, são essenciais em diversos setores industriais, especialmente no aprimoramento e no refino de produtos petrolíferos, além da produção de biocombustíveis. Esses processos se beneficiam de catalisadores para aumentar a eficiência e a qualidade dos produtos finais. Aruzza situa inclusive que a tecnologia de obtenção do catalisador já foi testada em várias etapas e, no momento, está na fase de experimentos finais para produção de biocombustíveis. “A equipe trabalha para otimizar o processo e garantir a viabilidade industrial da tecnologia”, salienta a cientista.

Coordenadora do Labprobio, local onde os testes ocorreram, Amanda Gondim contextualiza que a invenção é parte de um processo que se alinha ao movimento da ciência em direção a métodos mais verdes e eficientes. Portanto, essa inovação representa um avanço significativo para pesquisadores que buscam alternativas mais sustentáveis e produtivas no campo dos catalisadores. “O novo método de obtenção do catalisador é mais rápido, altamente cristalino e termicamente estável. Conseguimos um produto em menos de dez horas, quando em uma situação normal leva até 72 horas. Não bastasse, com alta pureza e qualidade comparável a processos tradicionais que exigem dias de preparação”, identifica. Fruto de uma dissertação de mestrado que envolveu os programas de pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPGCEM) e em Química (PPGQ), o pedido de patente tem como marca apresentar um grande potencial para impulsionar o desenvolvimento sustentável por reduzir impactos ambientais.

O match entre Química e Petróleo

A descoberta científica que gerou a obtenção dos catalisadores zeolíticos surge sobretudo da inquietação de uma paulista radicada em Natal há cinco anos. Paulistana de nascença, Amanda Caldas morava na cidade de Socorro, no estado de São Paulo, quando resolveu se mudar para Natal na década passada. “Eu sempre fui muito curiosa. E para algumas coisas, ainda mais. Eu olhava, por exemplo, para a borracha, para as tintas de parede, e procurava saber de onde vinha, do que eram constituídas. Em muitas coisas, o petróleo estava lá”, descreve.

Familiarizada com a química, Amanda procurou um curso que unisse a matéria com o petróleo. O macth com a UFRN foi inevitável. “Aqui foi onde encontrei ‘o curso’, e veio a graduação em Química do Petróleo. Estava decidida. Para meu pai e minha mãe, foi surpresa, pela minha idade, e acho que veio um temor também, já que eu tinha apenas 19 anos à época”, relata a hoje estudante de mestrado. Carregando nos ‘erres’ próprios de parte do interior do estado de São Paulo, ela relembra que o pai falou “minha filha, você vai para Natal, lá no Rio Grande do Norte, longe de nós”.

O brilho nos olhos ao recordar desses momentos só rivaliza mesmo com a empolgação ao falar das pesquisas. “Devo terminar o mestrado em metade do tempo. Pretendo ingressar no doutorado, também nessa área e, quem sabe, trilhar o caminho da área acadêmica em seguida e dar uma contribuição ainda maior para as áreas da química e do petróleo”.

Fonte: Assessor de Comunicação AGIR/UFRN


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