Descubra os benefícios de ser solteiro, segundo esta especialista de Harvard
A solteirice, por muito tempo vista como uma fase transitória ou até mesmo um fracasso em várias sociedades, está passando por uma transformação fundamental na percepção social, de acordo com a doutora Bella DePaulo, psicóloga social da Universidade de Harvard e autora do livro Solteiros por Natureza. Ela dedicou mais de 30 anos pesquisando como as pessoas solteiras não apenas são felizes, mas, em muitos casos, são mais plenas e satisfeitas com suas vidas do que as pessoas casadas.
Segundo DePaulo, o estigma tradicionalmente associado à solteirice está mudando, e suas pesquisas mostram que a solteirice pode ser uma escolha saudável e enriquecedora, longe dos preconceitos de solidão e tristeza.
A felicidade dos solteiros: uma perspectiva científica
Um dos pontos-chave nas pesquisas de DePaulo é que, ao contrário da crença popular, as pessoas solteiras não são necessariamente mais infelizes do que as casadas. Em sua palestra TED, que acumula mais de 1,7 milhões de visualizações desde 2017, DePaulo disse: “Dediquei minha vida a encontrar as histórias reais da vida de solteiro, as histórias que ninguém nos conta”. Segundo seus estudos, o mito do “solteiro triste” é apenas isso, um mito. A solteirice, de fato, pode ser uma fonte de felicidade, especialmente na meia-idade e nas décadas seguintes.
Estudos recentes mostram que as pessoas solteiras tendem a ser mais felizes à medida que envelhecem. De acordo com os dados compartilhados por DePaulo, a partir dos 40 anos, as pessoas solteiras tendem a ser mais satisfeitas com a vida devido à sua autonomia, à qualidade dos seus vínculos sociais e à liberdade pessoal que desfrutam. Esse fenômeno ocorre, em parte, porque, como menciona a especialista, as pessoas solteiras tendem a manter vínculos mais fortes com amigos e familiares. Em vez de se afastarem de sua rede social, como muitas vezes acontece com casados, os solteiros geralmente permanecem ativos e envolvidos em relações fora do âmbito romântico.
Solidão e estar sozinho: uma diferença crucial
Um conceito crucial nas pesquisas de DePaulo é a distinção entre solidão e estar sozinho. Em seu trabalho, a doutora enfatiza a importância de entender que estar sozinho não é o mesmo que se sentir sozinho. Enquanto a solidão se refere a uma experiência negativa, na qual as pessoas sentem falta de conexão social e isolamento, estar sozinho é uma escolha que pode ser profundamente enriquecedora. Segundo DePaulo, “estar sozinho é um tempo para reflexão, criatividade e desenvolvimento pessoal. É um tempo para a autorreflexão, sem as distrações das expectativas sociais”.
Esse conceito é especialmente relevante quando se considera que muitos solteiros desfrutam da solidão de forma positiva. A solidão escolhida não é uma experiência triste, mas sim uma oportunidade para crescer, explorar novas paixões e cultivar a paz interior. DePaulo argumenta que as pessoas solteiras, frequentemente, se sentem mais conectadas consigo mesmas devido a esse espaço pessoal e tendem a usá-lo para atividades de autocuidado ou desenvolvimento espiritual.
Solteiros de coração: características de uma vida plena
Em suas pesquisas na Universidade de Harvard, DePaulo identificou um grupo específico de solteiros que ela descreve como os “solteiros de coração”. Essas pessoas desfrutam da solteirice e se sentem plenamente satisfeitas com suas vidas, sem a necessidade de uma parceira romântica.
De acordo com DePaulo, os solteiros de coração têm várias características comuns: valorizam profundamente sua independência, desfrutam da liberdade que a solteirice oferece e são capazes de investir tempo e energia em relações significativas, seja com amigos, familiares ou até consigo mesmos: “Os solteiros de coração não são apenas felizes sendo solteiros, mas aprenderam a prosperar na sua solteirice”.
Eles se destacam pela capacidade de cultivar relações interpessoais fortes, fora do âmbito romântico. “As pessoas solteiras desenvolvem uma rede de apoio muito sólida, algo que casais tendem a perder à medida que se isolam em sua vida conjugal”, diz DePaulo. Essa habilidade de criar vínculos sociais fortes e nutrir sua rede de amigos e familiares é um dos motivos pelos quais os solteiros de coração tendem a experimentar níveis mais altos de satisfação e felicidade.
A solteirice frente à sociedade: pressão e mudança
Embora a solteirice seja cada vez mais aceita, especialmente entre as gerações mais jovens, as pessoas solteiras ainda enfrentam uma pressão social significativa, especialmente em sociedades com normas matrimoniais fortes, como ocorre em muitas culturas latino-americanas. A expectativa cultural de se casar e formar uma família continua sendo uma constante, e frequentemente as pessoas solteiras se sentem como se estivessem fora do lugar ou como se sua vida fosse incompleta. DePaulo aponta que a pressão social para o casamento ainda é um fator importante e que as pessoas solteiras frequentemente sentem que sua escolha de vida não é validada pela sociedade.
No entanto, DePaulo observa que o cenário está mudando. Cada vez mais pessoas estão escolhendo a solteirice como uma forma legítima de vida, o que começou a modificar as percepções sociais. Em países como Estados Unidos, Canadá e os países europeus, houve um aumento significativo no número de pessoas que optam por não se casar. Essa mudança geracional está dando origem a uma nova narrativa, que reconhece que as pessoas podem ser felizes e bem-sucedidas sem estar em um relacionamento.
Solteirice e relações não convencionais
Outro aspecto que DePaulo explorou é como a solteirice pode coexistir com relações não convencionais. Muitas pessoas solteiras, especialmente aquelas que se identificam como solteiros de coração, não rejeitam necessariamente os relacionamentos românticos, mas buscam maneiras de viver sua vida amorosa sem cair nos moldes tradicionais do casamento e da convivência. “Elas escolhem relacionamentos mais flexíveis, onde a convivência não é o objetivo final. Preferem ter espaços separados, ou até morar em casas diferentes, mas continuam mantendo um relacionamento amoroso”.
Essa forma de relacionamento pode parecer incomum para aqueles acostumados com relações tradicionais, mas para muitos solteiros de coração, essa opção representa uma forma de desfrutar de um relacionamento romântico sem perder a autonomia. DePaulo também menciona que esses relacionamentos não convencionais podem ser tão profundos e satisfatórios quanto os relacionamentos mais tradicionais, pois permitem que ambas as partes mantenham um senso de independência pessoal enquanto se apoiam mutuamente.
Em suas pesquisas, DePaulo deixou claro que a solteirice não é uma fase a ser superada, mas sim uma escolha legítima e satisfatória. DePaulo conclui em sua palestra TED: “A solteirice pode ser a melhor coisa que já aconteceu com você. Se você é solteiro, sinta-se orgulhoso da sua vida. Não deixe que ninguém te diga que te falta algo”.
Fonte: UOL Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário