domingo, 14 de julho de 2024

A HISTÓRIA DO ACIDENTE AÉREO NA PRAIA DE MURIÚ EM CEARÁ-MIRIM

Desastre da aviação na praia de Muriú

Matéria publicada no Jornal A República do dia 12 de janeiro de 1946

Desastre de Aviação na Praia de Muriú. Precipitou-se ao solo um B-17 Quadrimotor da Força Aérea Americana – Pereceu a tripulação constituída de 4 membros – enterramento no Cemitério do Alecrim.

Verificou-se anteontem, á tarde, na praia de Muriú, município de Ceará-Mirim, um desastre de aviação com um quadrimotor das Forças Aéreas Norte-Americanas, que caiu ao solo, incendiando-se. Pelas 16 horas, o aparelho realizou diversas evoluções a voo baixo, indo alcançar com uma aza o mastro de uma jangada que se encontrava na praia. Em seguida, atingiu alguns coqueiros ali existentes, precipitando-se logo mais sobre o solo, com uma aza partida, no sítio de propriedade do sr. Luiz Constantino Cruz, ali residente. O aparelho sinistrado conduzia uma tripulação de quatro membros, tendo perecido todos. Os corpos foram transportados para esta capital, onde realizou-se o seu enterramento, ás 17 horas, no Cemitério do Alecrim com a presença do Consul dos Estados Unidos, do representante do Dr. Interventor Federal Capitão José Fernandes Lopes, e outras autoridades. Um pelotão da base de Parnamirim da Força Aérea Brasileira prestou as honras fúnebres aos quatro militares norte-americanos tão tragicamente desaparecidos. Segundo informações que nos foram prestadas por pessoa chegada da praia de Muriú, o incêndio ali verificado em consequência do desastre calcinou cerca de duas mil covas cultivadas e uns 50 coqueiros, estimando-se os prejuízos em mais de vinte mil cruzeiros. O avião ardeu quase até o amanhecer de ontem, o que indica estivesse com uma considerável carga de combustível. Os habitantes de Muriú, onde se encontram veraneando várias famílias desta capital e de Ceará-Mirim, viveram momentos de pânico, nenhum acidente, felizmente, tendo se registrado entre os mesmos.

O acordo entre Brasil e Estados Unidos permitiu a construção da maior Base Aérea americana fora do seu território, justamente em Parnamirim (ainda bairro de Natal), em razão da nossa posição estratégica global. A Segunda Guerra mundial acabara em agosto de 1945, mas os americanos ainda permaneciam no comando de Parnamirim Field. O pai do menino foi recebido pelo Comando da Base Aérea e acompanhou o comboio que veio até a praia de Muriú, para fazer o rescaldo do incêndio. A praia não dormiu naquela noite. Foram mais de oito horas de trabalho de traslado dos corpos e resgate dos destroços da aeronave. Ainda em janeiro, o pai do menino recebeu uma carta de agradecimento do Coronel Thomas D. Ferguson, Comandante do Corpo Aéreo do Exército Americano, datada em 21 de janeiro de 1946.

PERSONAGENS DA HISTÓRIA:

O menino da história é meu pai, Haroldo de Sá Bezerra; o pai do menino, meu avô José Bezerra de Araújo. O comandante do Boeing B-17 Flying Fortress prefixo 44-83580, era o oficial americano Dale A Mickens, falecido aos 22 anos. A esposa do oficial americano era Marie J. Jennings Ulseth, falecida em 06 de janeiro de 2021 aos 94 anos. Meu pai cresceu e viveu temperado pelo sal do mar de Muriú e Jacumã até os seus 84 anos. Faleceu em 17 de janeiro de 2021 em Natal/RN.

Texto escrito por Maria Elza Bezerra Cirne, postado as 08:11hs do dia 15/01/2022. Dona Elza é filha do menino citado no texto (Haroldo de Sá Bezerra) e neta do senhor José Bezerra de Araújo, pai do menino.

No alto do pequeno morro próximo à casa de veraneio, o menino disputava com os amigos quem avistava mais jangadas na linha verde esmeralda do horizonte. Confundidas com as marolas de alto-mar, as velas brancas das embarcações enganavam os observadores, mas algumas já descansavam na praia sobre troncos roliços de coqueiros no final da tarde. Os pescadores separavam o apurado em dois dias de pesca, quando se assustaram com o voo rasante de uma aeronave. O pai do menino estava escolhendo peixe fresco para o jantar e sentiu o forte calor sobre sua cabeça. Para espanto do menino e dos demais frequentadores da praia, a aeronave tocou no mastro da vela de uma jangada, arrancou a copa de um coqueiro e espedaçou-se no chão, seguida de uma grande explosão e uma imensa bola de fogo. Os moradores e veranistas de Muriú correram para o local do acidente, por trás das casas da Cafuringa. O menino magrinho botou sebo nas canelas e foi um dos primeiros a chegar. Seu pai também acorreu para tentar salvar alguém. Depararam-se com os corpos carbonizados. O acidente ocorreu em 10 de janeiro de 1946, época de veraneio, que se estendia do início de dezembro até próximo ao carnaval. O mundo acabava de sair da Segunda Guerra Mundial. Os alarmes dos treinamentos militares e os blackouts nem bem finalizaram e a pacata praia de pescadores se assustou com o acidente de um Boeing B-17 Flying Fortress da Força Aérea Americana. O menino de nove anos olhava espantado para aquele imenso bombardeiro espatifado no chão, com sua tripulação morta e vários pedaços do avião intactos ao redor. Mesmo sem sobreviventes, o pai do menino decidiu comunicar o acidente às autoridades americanas. Dirigiu seu carro por duas horas e meia até Parnamirim Field.

Fontes: Jornal A República e Blog do Ney Lopes


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