segunda-feira, 23 de outubro de 2023

'BUDEGA VÉIA': A TRADIÇÃO DO NORDESTE EM UM LOCAL COM FORRÓ PÉ DE SERRA CACHAÇA E TIRA GOSTO DE 'AVUADOR'

Bar mantém tradição com forró e cachaça na Festa do Boi, no RN

Criado em 2001, 'Budega Véia' tem arquitetura arcaica e mal acabada, organizador acredita que o local atrai o público pela originalidade

Na Festa do Boi 2013, maior exposição de animais e máquinas agrícolas do Rio Grande do Norte, em Parnamirim, um dos pontos fortes do evento é um bar. Mas não é qualquer 'budega', como se fala no Nordeste, é um lugar bem arcaico, com uma arquitetura característica do sertão, com as paredes parecendo que foram construídas com barro, um chão repleto de poeira e um cheiro forte, que mistura cachaça com o fumo de rolo, mas que atrai um público de todas as idades para ouvir o autêntico forró pé de serra, gênero espalhado pelas composições e melodias de Luiz Gonzaga, considerado o 'rei do Baião'.

A ideia de montar um local que relembrasse os forrós de tempos atrás surgiu em 2001, pela cabeça do comerciante Rossine Cruz. Com de 59 anos, apesar de nascido na capital, Rossine tem família na cidade de Ceará-Mirim, município da Grande Natal, e que viviam em festas com muita dança e música. Para montar a 'budega', Rossine pediu para um sobrinho contratar um pedreiro para erguer um bar. Mas a construção não saiu como o planejado e o comerciante se viu com uma obra 'marmotenta', com paredes tortas e um acabamento irregular.

“Foi um coisa dos horrores. Quando meu sobrinho me mostrou como havia ficado o bar, enlouqueci. Achei aquilo uma coisa marmotenta, sem finalidade e pensei em derrubar para fazer de novo. Foi aí que ele disse que não haveria problema”, explica.

Com a 'obra de arte' entregue, Rossine pediu para o mesmo pedreiro que havia feito a construção, que pintasse o local. Bar finalizado e pronto para o uso, o comerciante se lembrou das festas onde os pais frequentavam quando ele era criança e comparou a sua propriedade com os bares antigos.

“Parecia uma budega véia, toda mal feita e foi aí o diferencial. Colocamos música, bebida nordestina, que é a cachaça e batizamos de 'Budega Véia'. Não deu outra, todas as vezes em que temos festa, a nossa budega é o ponto de encontro de todos os participantes do evento”, comemora.

Alma nordestina

A 'Budega Véia' preserva características do Nordeste brasileiro, como um balcão repleto de cachaça, fumo de rolo pendurado na parede, um bode empalhado, gaiolas, cestas de palha e várias placas com pensamentos inusitados dos vaqueiros, que são os responsáveis por cuidar do gado.

Por ser um espaço pequeno, o local é abafado, quente e o suor está estampado no rosto de quem consegue entrar. Isso mesmo, quem consegue entrar. Por conta da grade procura, muita gente fica apenas olhando pela porta. Lá dentro, casais de várias idades dançam as músicas tocadas pelo trio de sanfoneiro, comandados pelo 'Seu Zé'.

Segundo Rossine Cruz, 'Seu Zé' é o autêntico sanfoneiro do sertão, que não teve aulas e nem sabe o que são partituras, mas que aprendeu a tocar o instrumento 'apenas de ouvido'.

“Seu Zé é o sanfoneiro desde de que criamos a casa. Ele não canta tão bem e nem toca com maestria. Mas é aquela figura do sertão, que se interessou pela música e aprendeu a tocar a sanfona apenas de ouvido, sem ninguém para ensinar”, conta.

Outros dois músicos acompanham 'Seu Zé' – um com um triângulo e outro com uma zabumba – e fazem o som se expandir por todo o bar. Rossine diz que muitas vezes os músicos não sabem o que estão tocando, mas que a música já está na veia dos três.

“Eles só sabem fazer isso. Tocar forró e aquele que é bem rural, bem artesanal. É uma forma muita bonita de mostrar como se faz música. Sem apelo algum de formas eletrônicas ou de coisas sofisticadas. O que interessa é apenas tocar”.

Fonte: g1.com


Nenhum comentário: