segunda-feira, 26 de junho de 2023

ABATE SEM CONTROLE DE JUMENTOS ESTÁ PONDO EM RISCO A ESPÉCIE NO NORDESTE

Abate em massa de jumentos para China ameaça espécie e saúde pública no Nordeste

O abate sem controle de jumentos capturados pelo Nordeste está levando a uma rápida redução no número de animais, o que coloca a espécie em risco de extinção. Especialistas defendem que a atividade seja proibida no Brasil de forma urgente.

"Estamos dando um grito de alerta porque essa é a oportunidade final para salvar os nossos últimos jumentos. Não há mais tempo, temos de parar o abate". - Gislane Brandão, coordenadora da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos

Como é o abate

A estimativa é que cerca de 600 mil jumentos tenham sido abatidos desde 2016, quando começou a prática. Hoje deve haver apenas cerca de 300 mil espécimes no Nordeste, que quando capturados sofrem maus-tratos e causam risco sanitário aos humanos.

Em torno de 70 mil animais são mortos ao ano. Os jumentos são levados para fazendas das três empresas autorizadas de abate e exportação na Bahia. Elas matam os animais para vender a pele ao mercado chinês.

As peles são enviadas em contêineres, que saem de navios para extração do colágeno, um artigo usado na medicina tradicional chinesa. Lá, cada pele de jumento chega a valer US$ 4.000 (cerca de R$ 19 mil) no mercado.

Além disso, a carne que era um subproduto se valorizou nos últimos anos e vai para Vietnã e Hong Kong —mas ainda a preços bem menores.

Como os animais não têm uma cadeia produtiva rentável, a atividade é extrativista e finita.

"O interesse deles é para retirar o eijao para uso medicinal. Mas é uma cadeia custo-proibitiva; então eles exploram até não ter mais animais e depois partem para outro lugar. Nós já mapeamos isso." - Patrícia Tatemoto, que representa na América do Sul a ONG "The Donkey Sanctuary" (O Santuário dos Burros)

O eijao é obtido por meio da fervura da pele do jumento e é principalmente usado para problemas de circulação sanguínea e anemia.

Defesa da espécie

Desde 2016, pesquisadores e ativistas criaram a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos e denunciam que a prática os submete a extremos maus-tratos.

Segundo estimativas da The Donkey Sanctuary, 20% dos animais morrem antes mesmo de chegarem aos abatedouros pelo sofrimento imposto.

"Os jumentos são amontoados em caminhões, depositados em fazendas sem comida e água, o que gera enormes sofrimentos e mortes." - Gislane Brandão

A coluna procurou, durante a semana, as três empresas que fazem abate, mas não conseguiu nenhum contato.

Ações e projetos para barrar

Existem ações na Justiça que tentam proibir o abate, mas apenas uma delas com decisão favorável, dada à Frente Nacional de Defesa dos Jumentos. "Mas as empresas alegam que há outra decisão anterior que permite", diz Gislane.

Em março de 2022, o MP da Bahia pediu de forma liminar a suspensão dos abates, mas o pedido foi negado em abril de 2023. Um recurso foi impetrado e está à espera da análise da 3ª Câmara Cível do TJ (Tribunal de Justiça).

"O pedido é para suspender o abate até que haja uma criação regulamentada de jumentos e não haja perigo da extinção no Nordeste. No ritmo que vai, eles estarão extintos na região em alguns anos." - Julimar Barreto, promotor

O tema também foi debatido no último dia 14 na Câmara dos Deputados. Na Casa existe projeto dos deputados Célio Studart (PSD-CE) e Ricardo Izar (Republicanos-SP) para proibir o abate de equinos, equídeos, mulas e jumentos no Brasil.

Fonte: Portal 96 FM


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