terça-feira, 29 de junho de 2021

NÃO TEM JEITO MORTE DO CRIMINOSO LÁZARO TAMBÉM É POLITIZADA

Morte de Lázaro Barbosa exibe roteiro macabro de ‘reality show’ policial brasileiro

“Lázaro está morto.” A voz do repórter Roberto Cabrini, da Record, repetindo a notícia três vezes na TV selou o fim da busca por Lázaro Barbosa Sousa, acusado de mais de 30 crimes e que se escondeu por 20 dias nas matas do Cerrado brasileiro, numa saga acompanhada minuto a minuto pela mídia e pelas redes sociais. O anúncio veio praticamente ao mesmo tempo em que governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), divulgava em seu perfil no Twitter a prisão do criminoso de 32 anos. Depois, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, reconheceria a morte do foragido da Justiça.

“Não tivemos outra alternativa, senão reagir”, justificou-se Miranda que, cercado de repórteres, afirmou que com Lázaro, os policiais encontraram 4.300 reais e uma pistolada .380. Inicialmente foi divulgado que Lázaro teria morrido após ser atingido por um tiro na virilha, numa suposta troca de tiros em um arbusto no meio do Cerrado goiano. Pouco tempo depois de o corpo dele ser carregado de uma viatura policial até uma ambulância do Corpo de Bombeiros, imagens do corpo cravado de balas ―com dilaceração no crânio― começaram a circular. No peito e no rosto podia-se ver ao menos 15 perfurações a bala. Segundo o relatório da Secretaria Municipal de Saúde de Águas Lindas de Goiás, divulgado horas depois, o homem foi morto com 38 tiros.

O desfecho para o criminoso que ficou conhecido como “serial killer do DF”, “serial Killer de Goiás” e “maníaco” não surpreendeu. Apesar de sua caçada haver mobilizado cerca de 270 agentes das policiais civil e militar de Goiás e do Distrito Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Diretoria Penitenciária de Operações Especiais, Corpo de Bombeiros Militar e até a Casa Militar que atende o governador Caiado, o foragido não foi preso nem neutralizado. Sucumbiu com uma rajada de tiros.

“As informações que recebi são de que o trabalho da Casa Militar do Governo já acontecia há várias noites, eles estavam sem dormir, e fizeram um cerco [na região de Águas Lindas de Goiás] e [Lázaro] recebeu os policiais atirando. No momento em que recebi essa informação da captura, ele estava sendo deslocado”, disse Caiado em entrevista à CNN Brasil.

A incongruência entre os relatos de trocas de tiros, de captura e deslocamento para o hospital e as 38 marcas de balas no corpo de Lázaro apontam para um prática comum de procedimentos policiais no Brasil onde prender e levar o acusado ante a Justiça não costuma ser o plano A, muito menos em casos de grande comoção como o de Lázaro. No Twitter, o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, questionou: “1) Por que uma equipe da Casa Militar achou Lázaro enquanto uma Força Tarefa de Polícias não? 2) Ele integra uma quadrilha que queria tomar chácaras e fazendas na região? 3) Houve perícia ou isolamento de local? Sua morte evitará o aprofundamento das investigações?”

À TV TV Record, os familiares de Lázaro também questionaram: “Atiraram nele demais, não precisava tudo aquilo. Por que não deram um tirinho ou dois na perna, pra depois investigar e interrogar? Mas foi muito cruel”, disse Amélia, tia dele.

Fonte: El País


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