quarta-feira, 23 de junho de 2021

ESPETACULARIZAÇÃO DA CAÇADA DE LÁZARO

Caçada a Lázaro virou 'Big Brother' com cobertura sensacionalista que atrapalha polícia, diz criminóloga

Centenas de policiais, cães farejadores, helicópteros e radares com sensor de temperatura à procura de um homem suspeito de matar uma família e aterrorizar cidades na zona rural de Goiás e no Distrito Federal.

Como se não bastasse, a deputada federal Magda Mofatto (PL-GO) publicou nas redes sociais um vídeo em que aparece com um fuzil dentro de um helicóptero e promete prender o foragido Lázaro Barbosa, de 32 anos.

"Se o Ronaldo Caiado (governador de Goiás) não deu conta de te pegar, eu estou indo aí te pegar", afirma na peça.

Em 22/06, as buscas completaram duas semanas da morte de quatro pessoas da mesma família. Cláudio Vital, 48, e dois filhos, um de 21 anos e outro de 15, foram encontrados em casa com marcas de tiros e facadas, segundo a polícia. A mãe dos jovens, Cleonice Andrade, 43, foi achada morta três dias depois em um córrego. Para os policiais, Lázaro a sequestrou e a matou com um tiro na cabeça.

Mas para a escritora e criminóloga Ilana Casoy, ações com ares de caçada como a da deputada são apologia ao crime, e o suspeito corre ainda mais risco de vida caso seja encontrado por alguém que não seja um agente de segurança.

"Lamento essa postura. Evoluímos para viver num país onde não existe pena de morte ou execução sumária, então ela não deve ser feita ou incentivada. É muito difícil pegar o Lázaro vivo porque ele não tem a intenção de se entregar. Para que isso aconteça, profissionais como a polícia estão atrás dele porque ele tem muito a explicar e prestar contas da maneira certa", diz em entrevista à BBC News Brasil.

Casoy reforça que mesmo o Estado não tem permissão para matar, ainda que em casos de grande apelo popular. As exceções são em legítima defesa ou quando há reféns. "Não podemos incentivar algo que até a Bíblia condena. Agora, como um deputado vai explicar para o filho que ele pode matar alguém, mas o Lázaro, não?"

Fonte: BBC News


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