sexta-feira, 23 de abril de 2021

AMBIENTALISTAS CRITICAM DISCURSO DE BOLSONARO NA CÚPULA DO CLIMA

Discurso de Bolsonaro em cúpula do clima parece defesa do direito de desmatar, diz especialista

No discurso feito pelo presidente Jair Bolsonaro na Cúpula dos Líderes sobre Clima nesta quinta-feira, 22, o Brasil praticamente defendeu seu direito de desmatar, avalia a coordenadora do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), Adriana Ramos. Para ela, pedir recursos estrangeiros para combater crimes ambientais “é como se estivesse dizendo: 'posso desmatar, mas para eu não desmatar preciso de investimento'”. Na opinião da especialista, “essa é uma premissa que vai na contramão de qualquer perspectiva de uma Amazônia 4.0”.

Adriana participou na noite desta quinta do evento O mundo de olho na Amazônia: Ameaças e oportunidades para o Brasil, organizado pela Fundação FHC. No primeiro painel, além de Adriana estavam o empresário Pedro Passos, co-presidente do Conselho de Administração da Natura; Sergio Etchegoyen, presidente do Conselho do IREE Soberania e Clima (ISC) e ex-ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; e Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão e presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal.

Na Cúpula do Clima nesta quinta, Bolsonaro estabeleceu o compromisso de atingir a neutralidade das emissões de gás carbônico até 2050, mas sem um plano para cumprir essas metas. Outros países já haviam apresentado metas mais ambiciosas anteriormente. O presidente brasileiro também falou em zerar o desmatamento ilegal até 2030, mas voltou a cobrar recursos estrangeiros para intensificar o combate aos crimes ambientais.

Para Adriana, Bolsonaro falou de mudanças retóricas que ela espera que se concretizem em mudanças efetivas, embora isso não tenha sido sinalizado e ressaltou que “ainda paira sobre nós a ameaça do negacionismo, que foi o que nos tirou da liderança (do tema ambiental) e nos colocou nessa situação lamentável que o Brasil vivenciou: de o nosso presidente fazer uma manifestação e o presidente dos Estados Unidos já não estar mais na sala”. Segundo ela, isso jamais tinha ocorrido nas últimas três décadas.

A coordenadora do ISA ressaltou que esse negacionismo tem impedido o País de construir uma perspectiva nova no tratamento da questão da Amazônia. “Temos enorme acúmulo de conhecimento, de experiências desenvolvidas nas últimas décadas. Desenvolvemos pesquisas, fortalecemos uma agenda de ordenamento e gestão de territórios, experiências de produção sustentável. Mas tudo isso vem sendo ignorado e até rejeitado pelo governo", acrescenta ela.

Fonte: Estadão News


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