segunda-feira, 30 de novembro de 2020

"MANEL DO GELÉ" MERECE TODAS AS HOMENAGENS DA CIDADE DE CEARÁ MIRIM

"Manel do Gelé" um exemplo de vida simples e trabalho duro

Manoel Pereira dos Santos nasceu no município de Olho d´Água, interior da Paraíba, em 25 (vinte e cinco) de maio do ano de 1934. Era filho do casal senhor José Pereira dos Santos e senhora Emília da Conceição (ambos in memoriam).

A família viajou para o Rio Grande do Norte no ano de 1949, fazendo todo o percurso a pé, desde o Brejo da Paraíba, até a região do Mato Grande, onde se fixou por um curto período na cidade de Parazinho (RN), contabilizando um total de 08 (oito) dias. Manoel Pereira esteve conduzindo sua mãe e seus irmãos, na ausência de seu pai, pois era o mais primogênito.

No ano de 1950, Manoel Pereira saiu de Parazinho, e foi até a cidade de Pedra Preta (RN), onde pegava frete para ajudar na renda da família, até que, aproveitando o inverno, saiu novamente a pé, com sua mãe e irmãos para a cidade de Lajes (RN), onde algum tempo depois, dona Maria Emília da Conceição foi a óbito, e Manoel Pereira como irmão mais velho teve que assumir a chefia da família e as despesas do velório.

IMAGEN ILUSTRATIVA

Devido ao falecimento de sua genitora, ele teve que trabalhar carregando lenha na estrada de ferro e seus irmãos foram morar em casas de pessoas abastadas. Os homens trabalhavam no serviço braçal e as mulheres como empregadas domésticas e/ou babás.

Manoel Pereira resolveu então pegar a estrada no rumo do verde vale: a cidade Ceará-Mirim. Antes de partir nessa nova empreitada ele voltou para juntar seus irmãos, porém como eram ainda menores de idade, ele não pode tirá-los das casas onde estavam.

Tentou de todas as maneiras, inclusive pela via judicial, pois foi até a cidade de Macau (RN) falar com o juiz da comarca, para solicitar do mesmo uma autorização para ficar com a guarda dos irmãos e juntar todos partindo em direção ao Ceará-Mirim, o que foi negado, tendo em vista a situação do mesmo está desempregado, e ainda por cima, analfabeto, e por outro lado, os ricos exploradores não abriam mão de terem mão-de-obra barata e de confiança.

Em razão da situação pela qual estava passando, Manoel Pereira dormiu nas ruas de Lajes e de Baixa Verde (atualmente, João Câmara) e sua carona para a terra dos verdes canaviais foi negada pelo maquinista, mas ele não desistiu e subiu no vagão de cargas, às escondidas e fez a viagem até Ceará-Mirim.

Por não conhecer a estação nem tampouco a cidade, passou direto da parada, e só desceu na comunidade de Massangana, onde já existia na época, uma plataforma de embarque e desembarque de passageiros.

Por volta das 09h da noite ele seguiu em busca da casa de um velho conhecido: o senhor José de Odilon, que lhe amparou por um período de 02 (dois) meses, seguindo depois para Ceará-Mirim, onde ficou hospedado por vários dias na Casa de Caridade “São Vicente de Paula” (atualmente Abrigo São Vicente de Paula).

Ceará-Mirim era administrado nesse período, pelo senhor do Engenho Morrinhos Manoel Pereira dos Santos, que estava realizando um trabalho de modificação no calçamento da antiga Rua São José, substituindo as pedras brancas por paralelepípedos e após procurar o responsável pelo setor de obras, Manel do Gelé foi contratado como calceteiro pela Prefeitura municipal.

Outro trabalho que realizou pela prefeitura de Ceará-Mirim, foi o de encher e descarregar caminhão com barro para aterrar as crateras existentes em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, onde foi construída a Praça Barão de Ceará-Mirim e também para a construção do Grupo Escolar Barão de Ceará Mirim.

Nessa época, cegou a notícia que uma de suas irmãs havia sido internada para tratamento de doença mental na casa de saúde em Natal, localizada no Bairro do Alecrim, onde hoje é a Secretaria Municipal de Saúde, próximo ao prédio da LBA – Legião Brasileira de Assistência, porém, ela passou pouco tempo pois devido ao tratamento à base de choques na cabeça, ela foi a óbito.

IMAGEM ILUSTRATIVA

Transcorria o ano de 1953, e desempregado novamente, Manoel Pereira passou a viver de novo às custas de favores e conseguiu hospedagem em casa de um amigo para, em troca de comida e dormida vender a iguaria conhecida como “Gelé”, cujas vendagens eram feitas nas Usinas Ilha Bela (de Dr. Odilon Ribeiro Coutinho e administrada pelo ex-prefeito senhor Aderson Eloy de Almeida), Santa Teresa (do Interventor Ubaldo Bezerra de Melo) e no Engenho São Leopoldo, (de senhor Jorge Fernandes Câmara) saindo de casa bem cedo, só retornando à noite.

Em 1954, Manoel Pereira dos Santos alistou-se no Exército Brasileiro, onde permaneceu por 10 (dez) meses. Quando deu baixa, passou a trabalhar em roçado e continuou a vender o doce de côco, que já estava se tornando famoso, o “Gelé”, pois, as vendas lhes garantiam comida e dormida.

Certa vez, Manoel do Gelé sentiu vontade de ir a Natal para assistir ao desfile do 07 de setembro, deixando de realizar as vendagens do dia. Mas esse seu desejo lhe custou caro pois ao regressar, o antigo patrão não o acolheu, deixando-o, inclusive com fome, como forma castigá-lo, fazendo com que ele procurasse o senhor Raimundo Costa, feitor do Engenho Timbó onde conseguiu emprego e passou a trabalhar no eito, cambitando cana.

Passou um determinado tempo no Engenho Timbó, e devido a uma discussão com seu encarregado foi despedido, pois o mesmo não estava “apontando” corretamente suas horas de trabalho e produção. Esse episódio o levou a procurar novo emprego, conseguindo uma nova contratação de trabalho com o senhor Chicó Pereira, desta feita como servente de pedreiro.

Tentando uma nova fonte de renda, Manoel Pereira tomou R$ 50 mil réis emprestados, e comprou 04 côcos grandes, 03 quilos de açúcar, improvisa uma espátula, gastando R$ 45 mil réis ao todo, preparou o seu primeiro gelé sem a ajuda de ninguém.


Organizou tudo em um pequeno tabuleiro e foi para a Usina Ilha Bela, depois Engenho São Leopoldo e por último, no finalzinho dia estava em Santa Teresa. Nesse local ele foi direto para o “barracão” do senhor Antonio Ramalho, onde terminou de vender o gelé, regressando pelo Engenho Mucuripe já de tabuleiro vazio. Esse percurso ele fazia de segunda a sábado já em Ceará-Mirim vendia o doce apenas aos domingos.

A partir daí, passou a ser conhecido como “Manel do gelé”, embora algumas pessoas teimem em dizer “geléia”. Com essa iguaria ele conseguiu sobreviver e criar seus filhos até os dias atuais.

No ano de 1974, realizou sua primeira viagem ao Juazeiro do Norte (CE), terra do Padre Cícero, ajudando ao senhor Mário Paulino e sua esposa dona Maria Paulino a venderem as passagens, sendo essa mais uma fonte de renda para ajudar no orçamento familiar.

No dia 05(cinco) de março do ano de 1979, Manoel Pereira casou-se com a senhora Geralda Lima dos Santos, com quem teve 06 (seis) filhos: Francisco Canindé dos Santos, José Francisco dos Santos, Francisco das Chagas dos Santos, Francisco Januário dos Santos, Maria de Fátima dos Santos e José Francisco dos Santos.

A partir de 1988, “Manel do Gelé”, começou a organizar as viagens para Juazeiro do Norte (CE) com a ajuda dos filhos, realizando em média 04 (quatro) viagens por ano, geralmente nos meses de julho, setembro e outubro.

Atualmente aos 86 (oitenta e seis) anos de idade, Manel do gelé continua com seu trabalho vendendo a iguaria não só em Ceará-Mirim mas também nas praias, principalmente em Zumbi no litoral norte, no período de veraneio, há mais de 50 (cinquenta) anos, desde que preparou e vendeu o seu primeiro tabuleiro do mais gostoso e famoso gelé de toda a região do Verde Vale e do litoral.

Fonte: Gerinaldo Moura - Ceará-Mirim Vale de Cultura - Facebook


5 comentários:

Unknown disse...

Seu Manoel do Gelé, literalmente faz parte do patrimônio histórico de nossa cidade. Merece todo nosso respeito!

Unknown disse...

Meus parabéns pra ADRIANO SOARES do BLOG 30 ZERO Pela excelente materia quê conta a Historia do nosso Grande MANOEL DO GELÉ

Unknown disse...

BLOG 30 ZERO 7 FAZENDO E CONTADO HISTORIAS.

Polyedyson Cavalcanti disse...

Ótima matéria. A história da Nossa terra é bonita de modo geral mas, atualmente são poucos que mantém ou honram a nossa verdes canaviais. Parabéns pela matéria!

Unknown disse...

Muito oportuna a biografia do Sr Manoel do gelo,conhecido pela saborosa iguaria. Apesar da idade avançada, continua pelas ruas de CMirim oferecendo seu gelo. Parabéns,realmente,merece todo nosso respeito.