sábado, 12 de dezembro de 2020

ARTIGO: O PONTO FINAL E SEU USO NAS NOVAS TECNOLOGIAS

Como os chats quase acabaram com o ponto final

O ponto final nas máquinas de escrever antigas parecia uma mancha preta do tamanho de uma letra. O advento dos computadores trouxe caracteres com espaçamento proporcional — e o ponto foi reduzido a uma pequena marca.

Para mim, um ex-usuário de máquina de escrever, a ideia foi tornar esse ponto menos relevante. A parte mais importante de uma frase passou a ser uma simples manchinha: fácil de inserir sem pensar muito, fácil de ignorar por completo.

Depois, vieram outras ameaças: as mensagens de texto e os chats online. Na linguagem visual dos diálogos com balões de mensagem de texto no celular, os pontos são de pouca utilidade. Uma única linha de texto não requer pontuação para deixar claro que você terminou.

Em vez de digitar o ponto, pressionamos "enviar". E agora o encerramento de um texto é marcado pelo emoji de um beijo ou de uma carinha, no lugar do ponto final. Estudos mostram, inclusive, que as pessoas tendem a interpretar um texto que termina com ponto como ríspido ou passivo-agressivo.

Vivemos em uma era digital que gosta de fazer de conta que escrever é falar. Checamos nossos e-mails, mensagens e atualizamos nossos perfis de redes social em metrôs, restaurantes, na rua — locais em que também conversamos.

Escrevemos como se estivéssemos dialogando. Esse tipo de escrita digital geralmente é feita de forma rápida, à espera de uma resposta imediata. É uma forma semicontínua de bater papo.

Mas escrever não é bem uma conversa. Um dos propósitos de escrever de maneira eficaz é armazenar e disseminar informações de forma que não seja necessária a presença física de outra pessoa enquanto se escreve. Um texto escrito é sua própria ilha de significado, da qual o escritor se mudou e na qual ninguém mais precisa habitar.

Portanto, em qualquer tipo de escrita formal ou semiformal que a gente produza ao trabalhar — incluindo e-mails —, o ponto (e onde é colocado) é crucial. Uma frase deve presumir a existência do leitor, mas não pode, como em um balão de mensagem, exigir uma resposta. Com uma pausa, sua oração se torna autossuficiente.

O ponto oferece ao leitor uma forma de alívio, permitindo a ele encerrar o ciclo de significado e respirar mentalmente. Os pontos também dão ritmo à escrita.

Fonte: Joe Moran - Professor de inglês da Liverpool John Moores University


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