Potiguares na literatura nacional
Analisando-se a História da Literatura Brasileira, vê-se que, no Nordeste, apenas dois estados – Rio Grande do Norte e Piauí – não tiveram literatos de projeção nacional realmente importantes. As demais unidades federativas da região orgulham-se de contar, entre seus filhos ilustres, com verdadeiros ícones literários:
Bahia – Castro Alves e Jorge Amado;
Pernambuco - Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto;
Sergipe – Gilberto Amado;
Alagoas – Graciliano Ramos;
Paraíba – José Lins do Rego;
Ceará – José de Alencar e Rachel de Queiroz;
Maranhão – Gonçalves Dias e Aluizio Azevedo.
Nosso estado tem um grande nome – Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), mas este se destaca no campo das ciências humanas e sociais, e não no da literatura, embora alguns dos seus livros, como Canto de Muro e Prelúdio e Fuga do Real, revelem apreciáveis qualidades literárias.
No início de sua carreira, Cascudo tinha veleidades de ficcionista, haja vista a relação de obras do autor, “a publicar”, constante do livro Histórias que o Tempo Leva (1924): Persephona (romance de uma cidade triste), Sertão d´Inverno (contos), Cajueiro Florido (novela praieira) – obras natimortas, ao que tudo indica. Depois, Cascudo encaminhou-se pela Etnografia e pelo Folclore, tornando-se um dos mais respeitáveis estudiosos, nestas áreas do conhecimento, em todo o mundo.
Algum leitor destas linhas há de argumentar que nós do RN temos duas estrelas no firmamento da literatura brasileira: Nísia Floresta e Peregrino Júnior. Sim, é verdade. Mas, não são estrelas de primeira grandeza.
Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885) ganhou certa notoriedade por ser educadora e precursora do feminismo, além de escritora, com algum mérito, numa época em que as mulheres, de modo geral, eram semianalfabetas, limitavam-se a cuidar das tarefas domésticas.
Nísia Floresta é ignorada pela grande maioria dos historiadores da Literatura brasileira; apenas Nelson Werneck Sodré, em seu livro História da Literatura Brasileira - Seus Fundamentos Econômicos (1969), a menciona “entre os poetas menores do romantismo” (p. 318). Os demais historiadores, do meu conhecimento, Alfredo Bosi, Luciana Stegagno-Picchio, José Guilherme Merquior, Antonio Candido, Otto Maria Carpeaux, Manuel Bandeira, Érico Veríssimo – não dedicam sequer uma linha à escritora de Papari.
Quanto a outra ” estrela” acima citada – Peregrino Júnior (1898-1983), brilhou, talvez, com maior intensidade na vida literária do Rio de Janeiro (foi até Presidente da Academia Brasileira) do que na literatura propriamente dita. Sem dúvidas, trata-se de um bom contista regionalista, pintor de paisagens, tipos humanos, usos e costumes da Amazônia, onde viveu algum tempo exilado voluntariamente do Rio Grande do Norte. No entanto, ele nem consegue se ombrear com outros importantes escritores nordestinos não mencionados no primeiro parágrafo deste artigo, como, por exemplo, Ariano Suassuna, Augusto dos Anjos e Jorge de Lima.
De todo exposto resta a pergunta que não quer calar: por que essa ausência de potiguares entre os grandes das nossas letras? A resposta a tal indagação daria para se elaborar toda uma tese. Quem se habilita?
Creio que, num futuro não muito distante vários escritores norte-rio-grandenses serão reavaliados pela crítica e, em consequência, ganharão renome em todo o país. Dentre os veteranos poderíamos citar os seguintes: Polycarpo Feitosa, autor de cinco romances, sendo três da melhor qualidade; Afonso Bezerra, bom contista regionalista; Ferreira Itajubá, Henrique Castriciano, Auta de Souza e Jorge Fernandes, poetas que produziram pouco, mas ainda assim merecem realce; José Bezerra Gomes e Eulício Farias de Lacerda, romancistas de valor; Newton Navarro, nosso melhor contista; Zila Mamede, Luís Carlos Guimarães, Sanderson Negreiros, Myriam Coeli e Deífilo Gurgel, poetas que consolidaram o Modernismo no Estado, todos eles integrantes da Geração 61. E mais: Homero Homem, poeta e ficcionista, ainda não estudado devidamente, a nível nacional. Last but not least, Bartolomeu Correia de Melo, exímio contista.
Abstenho-me de nomear autores vivos, para não correr o risco de ferir suscetibilidades esquecendo alguns deles.
Vale dizer, por último, que já em meados do século XX, não mais éramos “uma terra só de poetas”. Desde então têm surgido ficcionistas em número cada vez maior, e não poucos dignos de status federal.
Fonte: Papo de Cultura/Manoel Onofre Jr.
Nenhum comentário:
Postar um comentário