sexta-feira, 26 de novembro de 2021

UM BREVE RELATO SOBRE A FAMOSA E SAUDOSA USINA ILHA BELA

De Ilha dos Cavalos à Usina Ilha Bela

O nome Ilha Bela deu um significado especial ao lugar que antes se chamava Ilha dos Cavalos e que pertencia a uma tribo indígena, e pôr a casa-grande ter sido construída sobre uma elevação e provavelmente em épocas chuvosas e de enchentes os moradores ficavam protegidos ali, recebeu o designativo de “Ilha”. Local de onde se avista grande parte do vale e da cidade.

Talvez esses indígenas fossem os Janduís ou Paiacus, ou até mesmo os Potiguares, que, segundo SENNA (33-34), habitavam a antiga Aldeia de Guajiru (atualmente Extremoz), que foram avançando mais para o interior numa tentativa de escapar da ação dos invasores europeus.

Segundo relatos orais de antigos moradores, a Ilha dos Cavalos estava sob o domínio do chefe Saquete e com o início da implantação da monocultura canavieira por todo o vale do rio Ceará-Mirim, introduzida pelo Coronel da Guarda Nacional Antônio Bento Viana no seu Engenho Carnaubal, o senhor Manoel Varela do Nascimento (futuro Barão de Ceará-Mirim) adquiriu a propriedade.

E para onde foram os indígenas que viviam na região? E como foi feita a negociação? O que os silvícolas ganhariam em troca da terra rica em água e de solo fértil? Possuindo um solo de massapê perfeito para a nova cultura, cuja plantação teve início, de acordo com ARRUDA:

“... inicialmente plantada nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente, a cana-de-açúcar mostrou-se mais adaptada ao norte da colônia. A faixa litoral do atual Rio Grande do Norte até o Recôncavo Baiano foi, então, ocupada pela agroindústria açucareira, sendo Pernambuco e Bahia os principais centros produtivos. (ARRUDA, José Jobson. História do Brasil. São Paulo: Ática)”

​As propriedades canavieiras existentes no Brasil colônia e também durante a Monarquia e consequentemente a República, eram bastante lucrativas e principalmente antes do Eixo Econômico se deslocar do Nordeste para a região Sudeste com o novo ciclo que foi o Café, substituindo o açúcar.

​Esses latifúndios que se formaram em torno do açúcar, tinham uma estrutura produtiva que contava com um grande contingente de pessoas escravizadas, embora possuíssem também um pequeno número de trabalhadores livres, que viviam quase que nas mesmas condições dos negros que eram trazidos da África em navios negreiros e viviam desde o momento em que deixavam sua terram, em condições sub-humanas.

​O Engenho Ilha Bela foi fundado na segunda metade do século XIX, pelo Tenente-Coronel José Félix da Silveira Varela, e pela grandiosidade de sua estrutura, já possuía em 1894 grande turbinas e taxa vacum, que lhes permitia fabricar o açúcar demerara cuja produção alcançou a cifra de 12.000 sacos de açúcar nesse período.

Apesar dos altos lucros, os investimentos em equipamentos e antes da abolição de 13 de maio de 1888, onde era contabilizada também a compra de pessoas livres para serem escravizadas, esses investimentos se tornavam quase que inviáveis, pois eram gastos exorbitantes.

Com a morte do Coronel José Félix, o Engenho Ilha Bela passou a ser administrado por seus três herdeiros, inicialmente, que eram: Dr. Otávio de Gouveia Varela, Maria Esther de Gouveia Varela e José de Gouveia Varela. Por um período, pertenceu ao Interventor do Rio Grande do Norte Ubaldo Bezerra de Melo, que também era proprietário da Usina Tereza, antigo Engenho Bicas.

O historiador Nestor dos Santos Lima afirma em sua publicação sobre o município de Ceará-Mirim na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, que no ano de 1929 surgiu a Usina Ilha Bela para produzir açúcar cristal, reforçando o que escreveu Júlio Senna em seu livro Ceará-Mirim exemplo nacional vol.II, que ela passou a funcionar no ano de 1930 a todo vapor.

Ainda em SENNA, (PÁG. 159), temos a notícia da abertura e funcionamento da Usina Guanabara (em 1929) fundada por Antônio Basílio e a Usina São Francisco fundada pelo filho do Barão de Ceará-Mirim Alexandre Varela (Xandu).

Em todas as etapas da fabricação do açúcar mascavo nos engenhos, o que podemos perceber é a presença do homem negro escravizado pelo branco, transformado em energia que garantia o funcionamento de todas as engrenagens.

Hoje, a Usina Ilha Bela está em ruínas. Era uma cidadela. Tinha de tudo o que se podia imaginar em uma cidade campesina: Igreja, escola, clube, campos, banhos de rio, vasta área para o plantio de subsistência para os moradores, uma cooperativa para os trabalhadores realizarem suas compras de mantimentos variados (enquanto predominava o velho e conhecido Barracão em outros lugares) e um grande amor que envolvia a todos que ali moravam.

Texto: Professor Gerinaldo Moura da Silva 
Fotos: arquivo do professor Gibson Machado


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